Artigo Teológico

A EXPERIÊNCIA DA RESSURREIÇÃO

Geralmente pensamos a ressurreição em termos finais; no final dos tempos, em termos escatológicos.
Muito raramente pensamos nas consequências da ressurreição de maneira prática e imediata em nossa vida. Creio que isso se deve por forte influência do apóstolo Paulo, no texto da 1ª Carta aos Coríntios, no capítulo 15, quando se propõe a explicar a ressurreição, apresenta está abordagem escatológica. Contudo, neste mesmo texto (1Co 15.29-34), o apóstolo reserva alguns versículos para tratar de questões práticas, do dia a dia. Mas, mesmo assim, ele mantém o foco na escatologia afirmando que, se não cremos na ressurreição de Cristo e na ressurreição no último dia, perdemos tempo e esperança, vivemos sem rumo na vida, podemos levar a existência terrena de modo dissoluto por não nos preocuparmos com a vida pós morte (1Co 15.19, 32).

A visão escatológica faz parte de nossa fé. Assim cremos! Contudo, será que a ressurreição não tem consequências práticas para nossa vida diária? Seriam apenas consequências após a morte? A exemplo daquilo que ocorreu com os discípulos de Jesus, podemos encontrar pistas das consequências práticas e imediatas da ressurreição na vida do cristão. A partir do que aconteceu com os discípulos, como foram impactados pela ressurreição naquele exato momento, nos primeiros dias após a ressurreição, podemos perceber que a ressurreição de Jesus traz transformações imediatas para a vida cristã, e não apenas escatológicas.

Quais os impactos e transformações que aconteceram na vida dos discípulos de Jesus, quando presenciaram a ressurreição e o ressurreto? O impacto primeiro foi de confusão. Um misto de medo, assombro, alegria, assim registra o Evangelho de Mateus (28.8). As mulheres, testemunhas da ressurreição, foram surpreendidas e atemorizadas, tomadas de temor e assombro (Mc 16.5, 6, 8). Certamente sentimentos naturais diante de tal evento que escapa à compreensão humana. Contudo, nossa meditação tem como proposta outros impactos. O impacto que se cumpre com a missão da ressurreição: a restauração.

Restauração da fé

O primeiro impacto da ressurreição na vida dos discípulos de Jesus foi o da restauração. Houve a restauração da fé. Depois da morte de Jesus, apesar de haverem sido prevenidos por Jesus (Mt 20.17-19; Mc 10.32-34; Lc 18.31-34), eles foram abalados. Inclusive na fé. Quando viram Jesus, não pensaram e não se lembraram da ressurreição que Jesus havia predito. Mas pensaram que ele havia sido roubado (seu corpo) ou era um espírito. Num dos episódios, a falta de fé foi prefigurada na pessoa de Tomé. “Por que sobem dúvidas em vosso coração?” (v. 38) Diante desta falta de fé na ressurreição,
Jesus lhes proporcionou a experiência de tocá-lo e de comer com eles, coisas que não ocorrem com um espírito. Jesus também lhes oportunizou uma reflexão sobre o que um ser vivo pode e não pode e de que é composto ao revelar que está vivo. Este episódio foi importante para que o ressurreto se apresentasse e ministrasse aos discípulos, restaurando a fé, ainda que por meio do “ver para crer”.

Jesus continua usando a Escritura para restaurar a fé de seus discípulos, fazendo com que se lembrassem daquilo que havia ensinado e predito. E, mais ainda, o que a própria Escritura havia profetizado em relação à ressurreição. O que fora profetizado tinha sido concretizado.

Restauração da Missão

A partir do verso 47 do capítulo 24 de Lucas, Jesus começa a elucidar e restaurar a missão que dera a seus discípulos. Ele havia trabalhado por meio do discipulado para que eles continuassem a viver como haviam aprendido. A morte foi um golpe fulminante na vida dos discípulos. Eles sabiam o que ia acontecer, mas não estavam preparados para dar continuidade à missão. Um golpe como esse tem certamente muito peso. Eles estavam dispersos, com medo, confusos, trancados, sem rumo, sem objetivo. A ressurreição causou a imediata restauração do objetivo de continuar a missão para a qual Jesus havia preparado seus discípulos.

O episódio em que Jesus aparece aos discípulos no mar de Tiberíades, quando Pedro resolveu voltar a pescar, elucida a restauração da missão. Pedro e seus companheiros fracassaram totalmente na pesca. Porém, com a presença de Jesus, Pedro conseguiu pescar. Na sequência, aparece aquele diálogo em que Jesus pergunta a Pedro: “Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas”. Jesus realizou a restauração de Pedro que havia passado pela amarga experiência de trair seu mestre e amigo. Com certeza, estaríamos vivenciando os mesmos sentimentos de Pedro. Diante do fracasso, tendemos a retornar à velha vida, às coisas do passado. Mas Jesus oferece a restauração da missão: “Apascenta as minhas ovelhas”. Certamente, isso se aplica a todos discípulos que estavam dispersos após a morte de Jesus.

Em questões práticas a ressurreição nos fortalece para continuar a missão. Em 1 Tessalonicenses 4.13-18, pautado na temática da esperança, Paulo retrata a ressurreição como mensagem que consola e fortalece para continuar caminhando com esperança e dando testemunho do evangelho, com alegria, restaurando a missão. A morte de um companheiro traz desânimo e perda de sentido, como ocorreu com os discípulos. A ressurreição, porém, consola e continua motivando a perseverança na missão.

Restauração da Alegria

A presença do ressurreto trouxe alegria à vida daqueles que estavam abatidos e entristecidos por causa da morte do Senhor. Isto é muito signifi cativo! A morte é o pior e terrível inimigo da vida e da alegria. Diante da morte, nada pode nos restaurar a alegria, a não ser o Consolador que seria enviado. A ressurreição no último dia traz a esperança e restauração da alegria no sentido de que nos consola. A ressurreição de Jesus restaurou a alegria dos discípulos ao terem a oportunidade de conviver com o ressurreto. A esperança escatológica traz alegria ao coração e renovação das forças. Como anunciar o amor de Deus sem alegria? Como continuar a anunciar o evangelho sem alegria? Como viver sem alegria? Não se vive! A tristeza e a depressão matam. Como poderiam continuar falando do amor de Jesus sem alegria, derrotados pela morte de seu mestre e amigo?

Jesus quando aparece ressurreto tem por objetivo restaurar a alegria (Lc 24.41). O evangelho de João retrata a alegria do encontro com o ressurreto (Jo 20.20). Sem alegria não se vive, tanto que a falta dela é vista como uma anomalia que chega até a fazer mal à saúde.

Restauração da Vida

A ressurreição trouxe a restauração da vida com Jesus. A ressurreição tem objetivos futuros, escatológicos, mas também para o presente e para os dias de hoje. A ressurreição de Jesus tem poder de restaurar a nossa fé. A ressurreição de Jesus tem poder de restaurar nossa visão e compreensão da missão a ser realizada. A ressurreição de Jesus tem poder de restaurar nossa alegria de viver com Cristo.
A ressurreição é vida para hoje e para amanhã.

Rev. Ricardo José Bento
Pastor da IPI de Mogi Mirim, SP
Professor da Faculdade de Teologia de São Paulo da IPI do Brasil (FATIPI)

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