Sermão

NO DESERTO DA CRISE (ÊXODO 14.1-14)

A crise é uma realidade. Não adianta colocar a cabeça na areia e fazer de conta que ela não existe. Vivemos uma crise avassaladora em nosso tempo. Crise espiritual, moral, política, religiosa, econômica, social. Crise individual, no casamento, nas relações entre pais e filhos. A crise é uma bifurcação. Perigos versus oportunidades. Porta para o sucesso ou túmulo para o fracasso. A crise eleva uns e abate outros. A diferença entre o vencedor e perdedor não está na crise, mas em como cada um a enfrenta. Atravessar uma crise é como cruzar um deserto. Daí a expressão que usamos e dá título à nossa mensagem: “No deserto da crise”.

Quando somos atingidos por uma crise e estamos no meio de um deserto, somos tomados pela ansiedade e perguntamos: O que será do meu futuro? Será que conseguirei sobreviver quando todos estão fracassando? Como irei superar o desânimo? O que será de minha família? Qual será o futuro dos meus filhos? E se eu perder o emprego? E se eu ficar doente? Como poderei prosperar se vivo num deserto?

No deserto da crise, precisamos, primeiramente, vencer o pessimismo

O pessimismo se transformou na epidemia de nosso tempo. É uma doença contagiosa. O ar está poluído dessa nuvem de descrença. A mídia despeja todos os dias enxurradas de informações arrancadas das mais terríveis e dolorosas tragédias humanas. Os arautos do caos tocam suas trombetas. Os profetas do pessimismo se levantam em todos os lugares. Cada dia é maior o coro dos céticos e pessimistas. Diante de um quadro como esse é mais que natural que muitos transformem os desertos da vida em campos de murmuração. Outros ficam amargurados com Deus.

Há aqueles que perdem a paciência e querem pegar logo o caminho de volta para o Egito.

Há ainda os que acham que o melhor é morrer no deserto. O deserto é o cemitério dos pessimistas, daqueles que se entregam à autopiedade. Ficam fracos, covardes e incrédulos. Só enxergam problemas gigantes e dificuldades.

Os que têm medo da carranca da crise não prosperam.

O medroso não investe.

O preguiçoso não trabalha.

O incrédulo não espera a bênção de Deus.

Os vencedores são aqueles que não vivem choramingando, nem colocam a culpa no sistema, circunstâncias ou nos outros.

O mundo está carente de homens e mulheres firmes, de líderes que ousem crer em Deus em tempo de crise. O nosso mundo precisa de Habacuques, que se alegram em Deus mesmo quando não há fruto na videira, boi no campo, comida no celeiro. A crise pode ser tempo de oportunidade. O deserto pode ser campo fértil. Por isso, semeie no seu deserto: em você, no seu casamento, família, filhos, trabalho, profissão, empresa, estudo, igreja.
Não importa se o cenário é de um deserto. Lance suas redes em nome de Jesus. “Lance seu pão sobre as águas.” Semeie, semeie pela fé. Faça tudo que depende de você e espere tudo que depende de Deus.

No deserto da crise, precisamos, em segundo lugar, vencer as tentações

Deus levou o povo de Israel ao deserto para saber o que estava no seu coração. O deserto diagnostica os desígnios do coração e as motivações mais profundas da alma. A experiência do deserto vai mostrar o quão vulneráveis somos e com que facilidade caímos em tentação. O povo foi tentado no deserto. Jesus foi tentado no deserto. Nós também somos tentados quando temos de enfrentar o deserto de nossas crises.

A tentação tem muitas facetas. Ela toca no nosso calcanhar de Aquiles. A pessoa é cuidadosa numa área, mas vulnerável em outra. Muitas pessoas são honestas com o trato do dinheiro, mas vulneráveis na área do sexo; outras, zelosas no sexo, mas vulneráveis no dinheiro. Para outros, o problema é a sede do poder. Há pessoas confiáveis nos negócios, mas fracas moralmente.

Os grandes homens de Deus também têm pés de barro. Eles também passam por grandes tentações cruzando o deserto de suas crises pessoais. Davi venceu o leão, matou o urso, derrubou o gigante, mas caiu na teia da tentação. Sansão matou mil filisteus com uma queixada, mas se deixou derrotar no colo de uma mulher filisteia. O deserto põe a nu nossas fraquezas e misérias. As máscaras caem. A farsa acaba. O grande perigo dos que usam máscaras é que elas caem no momento mais inesperado. No deserto da crise não ceda à tentação. Ela pode ser sua ruína.

No deserto da crise, precisamos da sabedoria que sabe equilibrar oração e ação

Não há sucesso sem esforço. Não há prosperidade sem trabalho. Se quisermos atravessar o deserto da crise, temos de aprender a cavar poços. Assim foi com Isaque. Viveu no deserto. Ali aprendeu a servir a Deus e a cavar poços.

No deserto da crise, precisamos obedecer à orientação de Deus

O caminho da obediência a Deus é a estrada da bênção. Mas não é uma estrada fácil. Obediência para Abraão significou deixar sua terra. Para Isaque, significou morar no deserto. Para José, ir para a prisão. Para Moisés, abdicar do poder e dos tesouros do Egito. Para Daniel, descer à cova dos leões. Para João Batista, ter sua cabeça servida numa bandeja.


O segredo da vitória na crise é peregrinar na terra em obediência a Deus

Andar sob a direção do céu é caminhar seguro. Se quisermos atravessar em segurança o deserto da crise, precisamos estar sempre no centro da vontade de Deus. O lugar mais seguro para estar mesmo cercado de perigos é o centro da vontade de Deus. Fora deste centro, mesmo o lugar mais seguro é escorregadio. Por isso o salmista, no centro da vontade de Deus, podia exclamar: “Em Deus faremos proezas”. E ele mesmo dá exemplos: “Quando temos Deus conosco passamos pelas muitas águas, pelos rios e até pelo fogo sem nos intimidar”.
Quando Deus está conosco, saltamos muralhas, vencemos gigantes, desafiamos o perigo, conquistamos fortalezas, arrombamos as portas do inferno. A presença de Deus é refúgio. Traz conforto. Dá segurança para atravessar o vale da sombra da morte. Quando Deus está conosco, o deserto da morte se transforma no vale da bênção.

No deserto da crise é que podemos experimentar os maiores milagres de Deus.

Se nos tempos de crise experimentamos nossas maiores tentações, é nesses tempos também que experimentamos os grandes milagres de Deus. Foi no deserto mais que em qualquer outro lugar que Deus se mostrou um Deus que opera maravilhas.

Foi no deserto que Deus socorreu maravilhosamente a Hagar e seu pequenino Ismael. Foi no deserto que fez brotar água da rocha, maná do céu e codornizes do mar. Foi no deserto que as sandálias não se gastaram. O deserto é um problema para nós, mas não para Deus. O deserto pode ser o lugar da prosperidade porque Deus transforma desertos em pomares. Faz arrebentar rios no ermo. Converte vales áridos em mananciais e as tragédias em degraus para galgarmos as alturas.

Por isso, não olhemos para aquilo que o deserto é, mas para aquilo em que ele pode se transformar. Veja a vida com as lentes do otimismo. Olhe-a com os olhos da fé, esperança e amor. O futuro não é filho do acaso. É dádiva de Deus e construção de homens e mulheres de visão. Os heróis da fé plantaram no deserto, enfrentaram a crise e triunfaram em tempo de adversidade.

Nós também podemos ser heróis da fé nos dias hoje.


Rev. Abival Pires da Silveira
Pastor emérito da 1ª IPI de São Paulo, SP, falecido no dia 1º/9/2019

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