Entrevista

MESSIAS ANACLETO ROSA

Pastor jubilado da IPIB, o Rev. Messias pastoreou (e continua a pastorear) a 1ª IPI de Londrina, PR. Como pregador, visitou muitas das nossas igrejas. Por isso, é conhecido em todo arraial presbiteriano independente. Porém, nesta entrevista, ele revela facetas de sua vida pessoal, no recôndito do seu lar. Termina afirmando que, se tivesse de voltar, gostaria de fazer três coisas: ser crente, casar-se com a Avani e ser pastor. Escritor, cantor e pregador, ele cultiva inspiradora vida disciplinada de oração.


O Estandarte – Hoje jubilado, longe da liderança administrativa da igreja, o senhor continua servindo a Deus. Como avalia a sua trajetória? O que mudaria se pudesse fazer novamente?

Rev. Messias – Hoje, avalio o meu ministério com gratidão a Deus. Tive o privilégio de conviver e trabalhar com uma geração de ilustres pastores: Sebastião Gomes Moreira, Azor Etz Rodrigues, Sherlock Nogueira, Daily Resende França, Onésimo Augusto Pereira, Jorge Bertolaso Stella, José Coelho Ferraz, Francisco Guedelha, Sátilas do Amaral Camargo, Gerson Pires de Camargo e Antônio de Godoy Sobrinho. É um privilégio muito grande também estar convivendo com uma nova geração, que chega cheia de sonhos. Eu me lembro de uma palavra de Billy Graham, quando estive na Carolina do Norte, EUA, onde está o museu com todo o histórico de sua vida. Ouvi uma entrevista dele já velhinho, quando perguntaram: O senhor mudaria alguma coisa? Ele respondeu: Oraria mais, estudaria mais e viajaria menos. Talvez, se eu fosse mudar alguma coisa, imitaria nosso querido pastor Billy Graham.

O Estandarte – Qual o segredo da vitalidade espiritual do senhor?

Rev. Messias – Em  1 Coríntios 15.10, Paulo diz: “Pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo”. Atribuo o segredo da minha vitalidade espiritual à graça de Deus. Em João 7.37-38, Jesus disse: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. Eu agradeço sempre a Deus, porque a força, a vitalidade, a memória, tudo que tenho e tudo que sou, devo a ele. Ele é a fonte inesgotável e, estando junto à fonte, estamos nos renovando a cada dia.

O Estandarte – Qual foi o melhor conselho que já recebeu?

Rev. Messias – O melhor conselho que recebi foi do saudoso Rev. Jonas Dias Martins, que foi meu professor no Instituto e Seminário Bíblico, em 1955, e, depois, tive o privilégio de trabalhar com ele no pastorado da 1ª IPI de Londrina durante 13 abençoados anos. Fiz o seu sepultamento e fechei os seus olhos. Ele foi um sábio, um homem fora de série. E, dentre os muitos e ricos conselhos que me deu, lembro-me deste: “Meu irmão, tenha um velho baú e um cadeado bem forte. Coloque todas as coisas boas que lhe acontecerem dentro, feche e vá em frente. Quando atravessar momentos tristes, difíceis, adversidades no ministério, volte, abra o baú, olhe o que está ali, as coisas boas, inspiradoras que lhe aconteceram e, fazendo isso, o senhor se reanima, volta a receber de Deus toda energia para prosseguir”. Todo pastor deve ter o seu velho baú, depositar ali as coisas boas e, nos momentos adversos e difíceis, buscar ali a inspiração para prosseguir.

O Estandarte – O senhor compartilhou num congresso que, em sua casa, o local de oração diária é numa poltrona.  Conte como é a sua disciplina de oração e dê um conselho para quem precisa de encorajamento nesta área.

Rev. Messias – A minha disciplina de oração começou logo que eu me casei com a Avani, há 60 anos. Nós assumimos, desde a nossa noite de núpcias, que a nossa vida, como casal, seria também de oração com base em Mateus 18.19: “Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem…”. Então, a partir desse texto, a Avani e eu oramos todos os dias. Há algumas pessoas que telefonam para nossa casa nesse horário. Elas sabem que não vamos atender, mas a nossa funcionária anota todos os pedidos, recados e nós retornamos. Não abrimos mão do nosso horário de oração. Isso é uma questão de disciplina. Eu sempre digo que, se não levarmos a sério a prática, o exercício da oração, fica difícil mantermos uma vida de oração. Para aqueles que querem desenvolver uma vida, uma espiritualidade abundante, eu daria o seguinte conselho: “Comece”. Muitos amigos e irmãos me perguntam: “Pastor, como começar? Como ter uma vida devocional?” E, quando nós falamos em vida devocional, não significa uma fuga. Alguém até me disse que isso é uma fuga. Não! Não é uma fuga. Como nós pastores vamos alimentar o rebanho, se não estamos alimentados? Como vamos dar o pão, se nós não buscamos um pedacinho desse pão a cada manhã? Procure ler pelo menos um capítulo da Bíblia por dia, ler um bom devocionário e, depois, orar pelo menos quinze minutos. Eu diria que não é tanto o tempo, quantos minutos, quantas horas. Eu nunca digo às pessoas quantas horas eu oro por dia. Isso não é importante. O importante é que nós tenhamos um tempo com Deus. É como andar de bicicleta. Você aprende pedalando. É como aprender a falar. Você aprende a falar, falando. A vida devocional envolve disciplina, mas envolve a disposição da prática também.

O Estandarte – Um ditado diz que “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Pelo longo e profícuo ministério, o senhor também é visto como pastor de pastores. Quais são os benefícios deste pastoreio?

Rev. Messias – Eu não me julgo pastor de pastores. Eu me julgo um amigo dos meus pastores, dos meus companheiros. Confesso que tenho um carinho muito grande pelos meus colegas. Oro pelos pastores idosos, oro pelos pastores jovens. É o nosso dever. Deus nos chamou para sermos canais, para sermos vasos, para sermos instrumentos para abençoar pessoas. Então, o primeiro benefício é que, quando eu abençoo, eu também estou sendo abençoado. Mas creio que outro benefício é que nós podemos motivar os nossos companheiros a prosseguirem no ministério. Temos de inspirar as pessoas. Isso eu aprendi também com o Rev. Jonas. Ele dizia sempre: “Meu irmão, precisamos inspirar”. Não me julgo um pastor de pastores, mas eu pedi sempre a Deus que ele me fizesse um amigo dos meus colegas, um companheiro dos meus colegas, e o maior benefício é nós podermos nos aproximar do colega, do companheiro. Lembro-me do Rev. Antônio Elias, um homem com o qual eu convivi muito e aprendi muito também. Ele era um canal. Aproximar-se desse homem era uma inspiração. Então, eu creio que nós podemos ser pessoas assim também.

O Estandarte – O Dr. Pérsio Gomes de Deus, psiquiatra cristão, afirma que “há maior incidência de doenças mentais entre pastores do que na população em geral”. Quais são os maiores impedimentos para um pastor buscar cuidado para sua própria vida?

Rev. Messias – Primeiro, muitas vezes o pastor se sente envergonhado. Como eu vou buscar ajuda, se eu tenho de ajudar? Lembro-me de um colega, Rev. Wildo dos Anjos. Ele escreve um testemunho impressionante: “Eu sirvo a Deus, mas sou depressivo”. Ele foi muito transparente ao dar o seu testemunho. Posso dizer que também já tive uma tuberculose, já passei por um processo depressivo, em 1997. A igreja estava crescendo, experimentando um tempo muito bonito, e eu tive que me afastar por três meses. Estava fragilizado. Então, eu creio que, muitas vezes, o pastor deixa de buscar ajuda porque ele se sente um herói. E eu não estou aqui fazendo uma crítica. Estou apenas querendo ajudar. Temos de nos lembrar que, nós pastores, também somos humanos. Temos emoções, sentimentos, fraquezas, até fracassos. Então, quando nos sentimos fragilizados, vamos buscar ajuda. Não nos envergonhemos disso.

O Estandarte – Por causa do distanciamento social provocado pelo coronavírus, cada lar se tornou efetivamente numa igreja. Como o senhor vê este momento? Qual a mensagem a igreja tem de levar para a sociedade brasileira?

Rev. Messias – Cada lar está voltando às origens. Quando nós lemos a Palavra em Colossenses, Paulo afirma no capítulo 4.15: “E a igreja que está em sua casa”. Stanley Jones escreveu, em um dos seus livros, que o cenáculo era a dependência de uma casa em que o Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes. Jesus fez muitos dos seus milagres em família, nas casas. Ele foi à casa de Zaqueu, à casa de Simão, à casa de Marta e Maria, à casa de Pedro. Muitos momentos do ministério de Jesus foram marcados pelo contato com a família. É claro que os templos são bênçãos de Deus, mas a igreja se reúne nos templos duas, três vezes por semana. É preciso, quer na zona rural, quer nos grandes centros, que a igreja aprenda a viver e a desenvolver a sua fé, a sua comunhão em família. E, quando digo em família, é o que está acontecendo, a igreja on-line. Esse momento que estamos vivendo é um momento de reflexão; temos de parar, pensar. Primeiramente, temos de levar uma mensagem de arrependimento. Deus está falando conosco. Depois, Deus quer que nós levemos uma mensagem de esperança, uma mensagem de volta para o Senhor, mas uma mensagem de vida. Jesus diz em João 10.10: “Eu vim para que tenham vida”. Então, esse é o momento de reflexão, é um momento de ouvir Deus, é um momento de uma volta para Deus, e é um momento de falarmos com toda a força que, em Cristo, há esperança. Louvado seja Deus!

O Estandarte – O líder cristão corre o risco de não saber aplicar as verdades do evangelho aos desafios atuais de um mundo globalizado e midiático? Como se preparar melhor?

Rev. Messias – Neste mundo globalizado e midiático, as informações chegam em volumes muito grandes, e as informações são muito variadas. Os recursos da comunicação são bons. Temos de aproveitar para nos preparar para usar esses recursos que Deus nos deu. Devemos no informar mais, nos contextualizando, vivendo. Não podemos nos fechar. Temos que abrir os olhos como disse Jesus, erguer a cabeça, levantar os olhos; temos que estar muito bem informados, correspondermos às expectativas. Nunca vivemos um momento tão oportuno para falar de Deus como nos nossos dias, para um mundo sofrido, um mundo doente, um mundo vivendo tantas adversidades. Então, esse é um momento oportuno para que nós continuemos pregando a palavra.

O Estandarte – Nesta edição, estamos homenageando os pastores jubilados. Faça um pedido.

Rev. Messias – Eu tenho um pedido. Primeiro, que nós, igreja, mantenhamos a nossa unidade. Somos um em Cristo, como disse o Rev. Abival: “Não podemos fazer sangrar o coração da igreja. Que nós descubramos sempre que somos mais do que uma organização. Somos um organismo vivo e, nesse organismo, nesse corpo vivo, cada um de nós é um membro, é uma peça importante. Que o Espírito nos mantenha assim unidos”. Outro pedido que tenho a fazer é que nós, como igreja, trabalhemos mais a nossa espiritualidade. Peço à igreja que nós busquemos mais a Deus, em oração. Alguém, um dia, me disse: “Ah! Messias! Você fala tanto em oração. Isso é uma fuga”. Não é, meus queridos. Eu peço que nós oremos mais, porque muita oração muito poder, pouca oração pouco poder. Quando nós abrimos o livro de Atos, uma das práticas da igreja era a oração. A igreja orava e Deus operava. Então, a nossa unidade, a nossa espiritualidade e, ainda quero pedir à igreja, que nós nos amemos mais. Nós não queremos ser conhecidos pelos nossos belos templos. Isso é bonito, é bom, mas não é isso que nos identifica. Não queremos ser conhecidos pelo nosso poder econômico, intelectual, social. Nós queremos ser igreja que viva a unidade, a espiritualidade como a igreja dos primeiros séculos. Um historiador chamado Ovídio diz que os pagãos olhavam para a igreja e diziam: “Vede como eles se amam”. Amai-vos uns aos outros. É o amor que nos identifica como cristãos. Jesus diz isso. “E todos conhecerão que sois meus discípulos, amando uns aos outros”. Então, aqui fica o meu pedido: unidade, espiritualidade e o exercício do amor. Como está lá em 1 Coríntios 16.14: “Todos os vossos atos sejam feitos em amor”.

O Estandarte – Tem algo que gostaria de falar e não perguntamos?

Rev. Messias – Só me resta agradecer à direção do nosso órgão oficial, nossos ilustres jornalistas, e agradecer porque, por intermédio de O Estandarte, posso, neste mês, me comunicar com toda nossa querida IPIB, a “igrejinha dos milagres”. E dizer, concluindo, que se eu tivesse que voltar, gostaria de fazer três coisas: ser crente, me casar com a Avani e ser pastor. Entendo sempre que não sou pastor por opção. Sou pastor porque Deus me chamou pela sua graça. Começar não é tão difícil; prosseguir, um pouco mais difícil; mas terminar é difícil. A minha palavra final é: comece bem, prossiga muito bem, e termine com excelência. Eu creio isso vale não só para o pastor, mas em outra atividade. Que beleza você olhar para um homem, para uma mulher, e dizer: “Eu me lembro de quando começou e de como prosseguiu”. Termine bem, suba ao pódio para receber a coroa da vida. Vale a pena servir ao Senhor! Deus nos abençoe! Amém.

5 thoughts on “MESSIAS ANACLETO ROSA

  • Morávamos no mesmo prédio, eu estava desesperada por que minha filha havia feito vestibular e ia estudar a noite, descendo, no elevador fui ali estava o Reverendo Messias. Contei para ele a minha angustia, ele então me disse: “Os anjos do Senhor acampa ao redor daqueles que os teme e os livra”.Salmos 34:7. Eu nunca mais esqueci daquelas suas palavras ditas com tanta mansidão. Hoje minha filha e formada! Glória a Deus, pelo instrumento vivo que ele foi e continua sendo nas mãos do Glorioso Deus nosso Senhor!! Shalom Pastor Messias, e muito obrigada!!!

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  • ALCIDES DUQUE ESTRADA

    Nos tivemos o privilégio de receber esse Servo de Deus em nossa Casa em Lupionópolis quando ele era ainda Seminarista no ISBL – de Londrina, isso na década de 50. Não estou chamando de velho! Foi uma inspiração ao nosso Ministério. Que o Senhor continue a fortalecê-lo, junto a sua querida família pra continuar sendo essa maravilha, presente de Deus pra nossa amada IPIB. Com um abração do Pr Alcides e Arlete

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  • Sandra Regina Vilhagra Faria

    Que maravilhoso ler essa entrevista! Na verdade vi como uma verdadeira mensagem para prosseguirmos nessa jornada. Que o Senhor abençoe ricamente esse órgão, O Estandarte, e ao rev Messias e Avani.

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  • EIDER RIBEIRO LUZ

    PARABÉNS, grande pastor Messias Anacleto Rosa.

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  • Dulce Almeida

    Tive o privilégio de conhecê-lo, da IPILON, quando comecei minha caminhada na Presbiteriana. Verdadeiro homem de Deus, fui muito ministrada por seus sermões e lembro-me da inesquecível frase “Olhe bem para mim, olhe nos meus olhos”. Que o Senhor o abençoe e sustente, muito mais agora, com a partida sua sua fiel companheira, sra Avani.

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