Jovem e Teologia

ENTRE A JUSTIÇA E A POPULARIDADE

Logo no início da série “Falcão e o Soldado Invernal”, quando Sam Wilson rejeitou o escudo confiado a ele pelo Capitão América em “Vingadores: Ultimato”, muitas pessoas ficaram confusas e indignadas. Era como se Sam estivesse dando as costas a um legado que sempre serviu para inspirar os oprimidos e representar aqueles que não possuem voz na sociedade. Afinal, os feitos do Capitão América sempre foram um símbolo contra a tirania e a desigualdade. Mas, ao que tudo indica, estávamos equivocados.

Na verdade, de nada adiantaria Sam honrar o desejo de seu amigo, Steve Rogers, se as injustiças do passado não fossem corrigidas e se a verdade não viesse à tona.

Por mais absurdo que pudesse parecer, ao abrir mão do escudo de vibranium e doá-lo a um museu, Wilson estava entrando numa profunda jornada em busca de sua própria identidade como o responsável por descortinar um novo olhar ao legado do Capitão América.

Isso fica evidente quando a série aborda a história de Isaiah Bradley, a primeira pessoa a vestir o uniforme azul depois de Rogers.

De acordo com a trama, Isaiah lutou na Segunda Guerra Mundial, alistando-se após o emblemático ataque a Pearl Harbor.

Visando recriar o super-soro que transformou Rogers no Capitão América, o exército norte-americano escolheu 300 soldados negros para a realização de um experimento. Com o objetivo de acobertar os testes, o governo decidiu executar o pelotão inteiro de onde retirou os soldados e comunicou às famílias nos EUA que todos – incluindo aqueles que passariam pela experiência – morreram em combate.

Isaiah foi um dos poucos que sobreviveram, sendo capturado e preso injustamente anos mais tarde. Uma triste história de racismo, traição e mentira na vida de um homem que lutou tão bravamente por seu país.

Enquanto Sam Wilson investiga o caso e busca capturar o grupo dos Apátridas ao lado do Soldado Invernal, as principais autoridades norte-americanas apostam, de acordo com seus próprios interesses e critérios, num substituto para o Capitão América: John F. Walker.

Um soldado cheio de problemas e extremamente carente de popularidade e autoafirmação. O resultado dessa escolha é desastroso e muito distante daquilo que Steve Rogers desejava. Walker é vaidoso, violento e autoritário e não está disposto a encarar suas falhas de caráter. Seu traje até poderia transmitir uma sensação de justiça e coragem, mas seu coração estava totalmente distante do espírito altruísta e heroico dos Vingadores.  

Este enredo de “Falcão e o Soldado Invernal” me fez recordar a narrativa de dois reis da história de Israel: Saul e Davi. Enquanto Saul estava preocupado com a aprovação e os aplausos das pessoas, Davi não podia tolerar as ofensas e os abusos cometidos pelos filisteus, povo inimigo dos israelitas. Ao derrotar o gigante Golias, ele supera a ameaça iminente, mas não reivindica o trono de Saul, mesmo este sendo rejeitado por Deus após diversos episódios de desobediência e o primeiro sendo ungido pelo profeta Samuel.

Infelizmente, muitos anos após Saul morrer e Davi ocupar o trono, o segundo rei de Israel age de forma tão cruel e rebelde quanto seu antecessor: encobre a verdade ao envolver-se num adultério, traindo e enviando para a morte um dos seus soldados mais leais, Urias.

Saul e Davi sofreram consequências graves ao se preocuparem mais com sua popularidade do que com seu caráter perante Deus.

Mas há uma diferença muito importante entre ambos. Davi reconheceu que era um rei insuficiente e que precisava do verdadeiro e único Rei: O Cristo.

Quando Jesus é o Rei de nossa história, não precisamos de autoafirmação ou popularidade. Afinal, de acordo com o dito popular, “quando se vive pelo elogio, morre-se pela crítica”.

Nossa vida está enraizada em nossa intimidade com Cristo e isso deve transbordar de forma sincera na maneira que nos relacionamos com as pessoas e encaramos temas importantes da nossa sociedade.

Afinal, apenas sob o governo de Jesus, poderemos desfrutar plenamente da vontade de Deus, como descrita nas Escrituras Sagradas: “Corra o juízo como as águas, e a justiça, como um ribeiro perene” (Am 5.24).

Rev. Marcelo Nogueira
Pastor auxiliar da IPI Centrfal de Brasília, DF

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