Vida Prática

PASTORES – VASOS DE BARRO: A FORMAÇÃO DE UM PASTOR

É com extrema alegria que, no dia 2 de setembro, comemoramos o “Dia do pastor, da pastora, do missionário e da missionária” na IPIB. Momento oportuno para refletirmos e recebermos de Deus a direção e a motivação necessárias a fim de reconhecermos e valorizarmos estes significativos ministérios.

No que se refere ao ministério pastoral na IPIB, cabe aos docentes da FATIPI a honra e a grande responsabilidade de colaborar na formação dos futuros pastores. De fato, grande é a responsabilidade, mas quero dar ênfase à palavra “colaborar”, pois a FATIPI não está sozinha nesta árdua e nobre missão, embora tenha importante participação. Ela não é a única responsável porque:

Em primeiro lugar e acima de tudo, ser pastor depende do chamado de Deus e do dom do Espírito Santo. É Deus que, em sua soberania e liberdade, chama e vocaciona pessoas para serem ministras da Palavra e dos sacramentos na igreja. Deus escolhe e o Espírito Santo age na vida das pessoas a fim de que a vocação seja percebida, assimilada e desenvolvida. O Espírito Santo age também na capacitação daqueles que foram vocacionados por Deus. Não podemos desprezar aqui a experiência humana em receber esse chamado de Deus, o que traz apreensão e dúvidas, mas também conforto e alegria ao coração. No entanto, sem a certeza, a clareza e a convicção do chamado e da ação divina, ninguém deveria abraçar o ministério pastoral.

Em segundo lugar, a igreja local participa ativa e decididamente da formação de um pastor. É nela que a pessoa, ao ser vocacionada por Deus, conhece a Palavra, cresce na fé, serve em diferentes ministérios, dá o bom testemunho cristão e participara responsável e ativamente da adoração a Deus por meio das atividades desenvolvidas. Se os membros e principalmente o Conselho da igreja local não percebem no dia a dia e não têm a segurança do chamado de Deus na vida de um membro que se diz vocacionado, não devem incentivar e muito menos dar os passos seguintes visando a candidatura deste membro. Devem, sim, orar e esperar em Deus o amadurecimento do chamado pastoral. Não são poucos os irmãos que, bem intencionados, mas, na empolgação e vontade própria, candidatam-se ao ministério pastoral sem ter o genuíno e autêntico chamado de Deus e dom do Espírito Santo.

Em terceiro lugar, está o presbitério que recebe o candidato e tem também a responsabilidade de examiná-lo. Mediante a orientação divina, considerando o histórico e o testemunho dele, aprovar ou não a referida candidatura e, posteriormente, a licenciatura e ordenação. Por mais que seja difícil para todos, o presbitério não deve titubear na decisão de negar ou adiar o devido encaminhamento de um candidato à formação teológica visando ao ministério pastoral. Sendo aprovada a candidatura, o presbitério tem o dever de acompanhar e auxiliar na referida formação, nomeando um tutor para o devido auxílio.

Em meio a todo esse processo de exames e encaminhamentos, não queremos de forma alguma minimizar a alegria e a gratidão a Deus quando surge uma pessoa na igreja dando testemunho e mostrando o interesse no ministério pastoral. Isso mostra que Deus está presente, agindo na história do seu povo e despertando vocações, assim como fizera no Antigo e no Novo Testamento, bem como em toda a história da igreja. 

Além da igreja local e do presbitério, a FATIPI, como instituição teológica da IPIB, participa ativamente na formação de um pastor. Trata-se do período de estudos teológicos e de formação acadêmica, os quais devem ser vinculados ao crescimento da espiritualidade e da fé, amor pela Palavra de Deus e desejo de servir com humildade na igreja de Cristo. Em nossos dias, é inadmissível que os estudos acadêmicos sejam um período árido na formação de um pastor, ou seja, não pode ser uma formação intelectualista, fria, especulativa, pautada no dogmatismo ou somente na desconstrução das verdades e histórias que aprendemos na Bíblia. Pelo contrário, a formação acadêmica deve ser vibrante, apaixonante, enriquecedora e, acima de tudo, que alimente e fortaleça a paixão pelo reino de Deus e pela igreja. Precisamos eliminar de vez o velho jargão de que “a Faculdade forma teólogos e não pastores”. É por isso que a ênfase atual da FATIPI, em sua proposta pedagógica, é a de uma formação fundamentada e direcionada na perspectiva da prática pastoral e missional, tendo como critério o desenvolvimento das “habilidades e competências” dos seus egressos. É neste sentido que a FATIPI vem trabalhando com zelo, seriedade e temor a Deus na formação de pessoas vocacionadas por Deus.

A formação acadêmica de um candidato ao ministério pastoral precisa ser pautada na capacitação da leitura, estudos e compreensão das Escrituras Sagradas, a fim de pregar e ensinar com coerência e fidelidade a Palavra de Deus. Precisa também valorizar a história da igreja, com ênfase na tradição reformada e história da IPIB, assim como nos principais temas que definem a nossa maneira de entender e viver a fé cristã. Precisa oferecer um conhecimento geral e relevante da nossa realidade local e mundial, realidade esta em que a semente do evangelho será lançada. Precisa, por fim, capacitar pessoas para a práxis, ou seja, para práticas, ações e atuação bem fundamentadas e seguras, ou seja, é o agir e atuar do pastor na e com a igreja. É isso que a FATIPI procura fazer no dia a dia da formação teológica, mediante a orientação e a capacitação divina.

Por fim, é importante ressaltar a responsabilidade do candidato na formação do ministério pastoral, tanto no período de estudos como no decorrer de seu ministério. Infelizmente, nos últimos anos, a formação básica da maioria dos candidatos tem sido deficiente, chegando ao ponto de eles não saberem ler, interpretar e elaborar satisfatoriamente um texto simples. É deficiente também a formação cristã, isto é, vários chegam à FATIPI sem conhecimento mínimo das histórias da Bíblia e dos versículos mais comuns e destacados nas igrejas. Além disso, é deficiente e superficial, muitas vezes, o conhecimento da história da Igreja, da tradição reformada e dos símbolos de fé adotados pela IPIB. No que é possível, a FATIPI tem buscado amenizar e superar estas deficiências, o que não é uma tarefa fácil, pois depende muito mais da vontade e dedicação dos alunos. No entanto, é importante destacar que pastores devem se conscientizar de que a formação pastoral não se reduz ao período de estudos acadêmicos. A formação se dá por toda a vida e ministério. É fundamental que o pastor continue estudando, aprendendo, refletindo e se aprofundando nos principais temas e assuntos do ministério pastoral, por meio dos mais variados cursos na área da Teologia ou afins. A maturidade do ministério pastoral vem com o tempo, com a experiência e dedicação junto à comunidade cristã. Três ou quatro anos de formação acadêmica (nível graduação) é pouco para um ministério satisfatório.A formação de um pastor antecede e vai além do período de estudos na faculdade ou seminário. Na IPIB, temos que trabalhar em parceria (igreja local, presbitério e faculdade) nesta preciosa formação, compartilhando as alegrias de uma formação bem sucedida e dividindo as responsabilidades de uma formação frustrante. Temos de ter em mente também que, nas palavras do apóstolo Paulo, pastores também são “vasos de barro” (2Co 4.7), isto é, podem ser moldados “para que a excelência do poder seja de Deus”, mas podem quebrar e se despedaçar na prática do ministério pastoral. Oremos para que a formação pastoral na IPIB possa, cada vez mais, formar pessoas para o ministério pastoral que fortaleça a igreja de Cristo e para a glória de Deus.

Rev. Reginaldo von Zuben
Professor e diretor da Faculdade de Teologia de São Paulo da IPIB

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