Artigo Teológico

JESUS, O PROFETA DA GENTILEZA

Gentileza é uma dessas palavras que têm caído em desuso tanto no discurso como nas atitudes.

Segundo o dicionário Aurélio, significa “ato de ser gentil, ação nobre ou distinta, amabilidade, favores”.

São pequenas atitudes como um sorriso, um cumprimento, um favor, disposição para ouvir mais e criticar menos, jogar o lixo no lugar certo, dentre outras. Pequenos gestos, mas que podem trazer grandes mudanças na vida de alguém e que, se praticados por todos, podem transformar o mundo.

No Rio de Janeiro, entre os anos 60 e 80, viveu um personagem que se tornou folclórico. Seu nome era José Daltrino, mas ficou conhecido como o “Profeta Gentileza”. Vestido de uma bata branca com vários adereços coloridos, era visto distribuindo flores e pregando sua famosa frase: “Gentileza gera gentileza”. Eternizou muitos de seus pensamentos escrevendo-os em murais decorados em verde e amarelo nas pilastras do viaduto que liga o Caju à Rodoviária.

Após sua morte, as pilastras foram pintadas de cinza o que causou um protesto da população que exigiu a reconstituição das pinturas e gerou o movimento “Rio com Gentileza”. Apesar de sua confusão mental, José Daltrino tinha uma certeza que escrevia sempre: Deus é a fonte da gentileza.

Em toda a sua vida, Jesus foi exemplo de gentileza.

Desde o primeiro milagre, ao se dispor a ajudar um casal com problemas (Jo 2.7).

Sorria com ternura para as crianças (Mc 10.16) e para os desvalorizados sociais (Lc 5.12; Lc 7.27; Lc 10.12; 17.14; Jo 8.10).

Dispunha-se a ouvir as tristezas dos enlutados (Jo 11.21), dos pais aflitos (Lc 8.41; Lc 9.38), das mulheres desprezadas (Jo 4.9).

Foi capaz de se desviar de seu caminho para consolar a viúva de Naim (Lc 7.13) e curar o cego de Jericó (Lc 18.40).

Interrompeu uma pregação no meio para alimentar a multidão faminta (Lc 9.11-17) e para curar um paralítico trazido por amigos (Lc 5.19).

Sentou-se à mesa com os publicanos Levi (Lc 5.29) e Zaqueu (Lc 19.5), com o leproso Simão (Mt 26.6) e com mulheres como Marta e Maria (Jo 12.2-3).

Atendia gentilmente tanto pobres como ricos, como um centurião (Lc 7.6), ou idosos, como o judeu Nicodemos (Jo 3.1-2), e o jovem rico (Mc 10.21).

Entre seus doze amigos mais próximos, estavam homens de todas as classes sociais e posicionamentos políticos.

Mesmo na triste noite de sua prisão, traído por um amigo e defendido pela espada por outro de seus discípulos, Jesus teve compaixão de um servo ferido, curando-o gentilmente (Lc 22.47-51).

Um de seus últimos ensinos foi: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos; se tiverdes gentileza (amor) uns aos outros” (Jo 13.35).

Jesus tinha sempre uma palavra de ânimo e de carinho tanto para seus seguidores como para aqueles que só o encontraram uma única vez. Com sua gentileza, Jesus impactou a vida de todos os que o conheceram mudando suas vidas (Mt 27.54).

Nos dias de hoje, de tanta correria e preocupações temos muito a aprender com Jesus, o verdadeiro profeta da gentileza de Deus.

A vida de Jesus nos convida a um olhar mais atento às multidões ao nosso redor, onde pessoas carecem de um sorriso, de um gesto, de uma palavra de consolo ou, ainda, de ânimo. Simples gentilezas que podem mudar o dia ou a vida de alguém.

Se os escritos de José Daltrino mobilizaram uma cidade para um projeto social de gentileza, o que nós cristãos causaremos se simplesmente agirmos para com nosso próximo como Jesus faria em nosso lugar?

Lídice Meyer Pinto Ribeiro
Membro da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, SP
Pós-Doutora em Antropologia e História
Professora da Universidade de Lisboa, Portugal

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