Vida Prática

AI DE QUEM FIZER TROPEÇAR (MT 18.6)

O médico recomendou exame de sangue para dois dos meus netinhos. Foi-lhes dito, da forma mais amorosa possível, que  a enfermeira tiraria um pouquinho de sangue de cada um.

Estávamos juntos na sala de espera quando um deles me perguntou baixinho: “Vovô, a moça vai usar a faca ou a tesoura?”

Ao explicar que seria utilizada uma agulha bem fininha, quase sem dor, imaginei o sofrimento das duas crianças no trajeto entre a casa e o laboratório.

Veio-me à mente a angústia de crianças que, diante de sugestões provocadas por conversas não muito claras dos adultos, vivenciam na sua mente imatura problemas que as perturbam e afligem. Dependendo das circunstâncias, a tensão é muito grande, com consequências para a vida toda.

Não compreendem determinadas ações ou posturas e sofrem pela insensibilidade diante de problemas que, para elas, são insolúveis.

Muitas vezes isto acontece por absoluta falta de atenção, de tempo, de comodismo ou, até mesmo, de desrespeito para com o fato de elas serem simplesmente crianças. E nem estou me referindo a adultos maldosos capazes de praticar violência contra estes seres indefesos.

A criança é um ser todo especial, que irradia alegria, sinceridade, possui convicções e fantasias particulares, e vive em um mundo diferente daquele que os adultos estão envolvidos.

A criança se desenvolve neste contexto e seu desenvolvimento não é coisa simples, pois é movimento contínuo.

Não é apenas crescimento, pois isto seria um mero acúmulo de novos elementos, mas uma transformação qualitativa.

Isto significa que qualquer experiência nova não vem apenas juntar-se às anteriores, o que vale dizer que toda nova aquisição modifica e é modificada.

Por exemplo: a criança enganada pelo adulto não colhe apenas uma experiência suplementar que se soma às anteriores, mas o seu modo de encarar o adulto modifica-se.

Todo o seu sentimento de segurança é posto em xeque e o seu comportamento se ressente disto.

A criança depende dos outros para avaliar a si mesma. Concebe sua imagem como a proposta pelo adulto

Vale a pena relembrar um texto do Antigo Testamento que avaliza a importância das crianças: “Da boca dos pequeninos e das crianças de peito suscitaste força, por causa dos Teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador” (Sl 8.2).

Sobre este versículo cito Jonas Rezende em seu livro “Salmos para o Coração”: “É bem provável que não exista nos textos do Velho Testamento outra citação que centralize os pequeninos como um exemplo. E diferentes estudiosos interpretam este poema de Davi de modo semelhante ao que se diz das crianças com base nas palavras de Jesus. Destacam o deslumbramento infantil com o mundo, sua postura lúdica diante da vida, a maneira pura como os pequeninos se comportam em contraste com a sofisticação e a velhacaria dos adultos. E mais: a plasticidade das crianças, que se reformulam a cada passo do seu rápido crescimento; a maneira como elas podem ilustrar a fé para com Deus, no absoluto abandono às mãos de seus pais”.

“Vocês nunca leram que da boca dos pequeninos e crianças de peito Deus tirou o perfeito louvor?” Foi o quer Jesus disse, quando inquirido pelos sacerdotes.

A criança não precisa lutar por uma boa posição que lhe permita relacionar-se com Deus.

Jesus, contrariando todos os valores do seu tempo, disse que o Reino dos Céus é das crianças, que os adultos teriam que se tornar crianças, e foi profundamente drástico:Qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar” (Mt 18.6)

Oração: Senhor, não permita que a nossa maneira de ser, nossos problemas, nosso humor ou quaisquer outras circunstâncias nos impeçam de procurar entender o que passa no coração dos nossos pequeninos. Oremos também pelas crianças refugiadas que não entendem porque seus pais foram embora. E que possamos ouvir atentamente uma criança, e ter muito cuidado no que dizer a ela”.

Rev. Gerson Moraes de Araújo
Ministro jubilado da IPIB e capelão do Hospital Evangélico de Londrina, PR

One thought on “AI DE QUEM FIZER TROPEÇAR (MT 18.6)

  • Clecio

    Louvo a Deus porque a igreja do Senhor ainda continua itinerante através de pessoas que teme a Deus. Muito bom!

    Resposta

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