Editorial

“Made in Brazil”

Estamos celebrando mais um aniversário da IPIB. Oficialmente, a data de organização ficou registrada como sendo o dia 31 de julho de 1903. No entanto, nesse dia, em hora tardia, houve tão somente o rompimento com a Igreja Presbiteriana do Brasil, em que um grupo deixou a reunião do Sínodo e se recolheu no templo da 1ª Igreja de São Paulo.

Houve muitas lágrimas, cânticos e orações. Nada mais que isso. Somente no dia seguinte, o mesmo grupo se reuniu para organizar, formalmente, o Presbitério Brasileiro.

Uma das mais fortes razões para a organização da IPIB foi a chamada questão da evangelização indireta. Isso quer dizer que a estratégia missionária para implantação do presbiterianismo no Brasil utilizada pelas igrejas dos Estados Unidos foi o estabelecimento de instituições de ensino.

O próprio Rev. Ashbel Green Simonton escreveu em seu Diário, quando era seminarista em Princeton: “Ouvi hoje um sermão muito interessante do Dr. Hodge sobre os deveres da igreja na educação. Falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder esperar qualquer sucesso na propagação do evangelho e mostrou que qualquer esperança de conversões baseada em obra extraordinária do Espírito Santo comunicando a verdade diretamente não é bíblica”.

O texto não poderia ser mais claro! A estratégia missionária era a de, primeiramente, educar para, depois, converter. E educar, acrescente-se, significava implantar a cultura norte-americana, considerada cristã, no lugar da cultura brasileira, tida como pagã.

O primeiro pastor presbiteriano brasileiro, o Rev. José Manoel da Conceição denunciou isso ao escrever: “Respeitem-se, portanto, os costumes e usos antigos do povo que, em falta de mais profundos esclarecimentos, são aptos para guiá-los e contê-los no bem”.

Contra tal evangelização indireta, que desrespeitava “os costumes e usos antigos do povo” brasileiro, o grupo de pastores e presbíteros que organizou a IPIB defendia, com ardor, a evangelização direta.

Assim, proclamar o evangelho não significava defender a implantação de uma cultura estrangeira. Ao contrário, proclamar o evangelho era defender a cultura brasileira, permitindo que convertidos em nosso país continuassem a ser culturalmente brasileiros.

Nesse sentido, podemos afirmar com toda segurança: a IPIB nasceu e se organizou como um produto genuinamente “made in Brazil”.

É claro que fazemos parte da família cristã que abriga diferentes povos, culturas, raças e nações. Essa família não é uniforme. Seus membros são diferentes uns dos outros. Dela família somos parte com nosso modo brasileiro de ser.

Rev. Gerson Correia de Lacerda
Editor e revisor de O Estandarte
Pastor auxiliar da 1ª IPI de Osasco, SP
Secretário Geral da IPI do Brasil


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