MISSÃO TRANSFORMADORA
BOSCH, David J. Missão transformadora. Mudanças de paradigma na teologia da missão.São Leopoldo: Sinodal, 2002.
David Jacobus Bosch nasceu em 1929, na África do Sul, e faleceu em 1992. Era membro da Igreja Reformada Holandesa na África do Sul, estudou teologia na África do Sul e fez seu doutorado na Suíça, sob a orientação de Oscar Cullmann.
Bosch retornou à África do Sul como missionário e professor de missiologia. Embora convidado para lecionar em outros países do Primeiro Mundo, permaneceu em sua terra lutando contra o racismo e o apartheid.
Em 2013, Bosch recebeu, postumamente, a Ordem de Baobab, da África do Sul, “por sua luta altruísta pela igualdade … e por sua dedicação ao desenvolvimento comunitário. Em sua vida, manifestou os valores do não-racismo, contra o pensamento dominante de sua própria cultura”.
David Bosch é conhecido mundialmente por seu livro “Transforming Mission. Paradigm Shifts in Theology of Mission”. A edição brasileira tem o título “Missão Transformadora. Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão”, publicado em 2002 pela Editora Sinodal.
Podemos considerar esta obra como um clássico da teologia da missão. Todas as pessoas que se interessam pelo assunto têm a obrigação de lê-lo.
Não é um livro pequeno. Nem sempre é agradável a sua leitura. É, porém, leitura indispensável para quem quiser entender a história das práticas e das teorias da missão da igreja.
O livro está organizado em três partes:
1) Modelos Neotestamentários de Missão;
2) Paradigmas Históricos da Missão;
3) Rumo a uma Missiologia Relevante.
Nas duas primeiras partes, Bosch oferece uma teologia bíblica da missão e uma história crítica e criativa da missão nas igrejas cristãs. Ele mostra que não há um único modelo de prática e teologia da missão. O próprio Novo Testamento destaca a criatividade do Espírito e da resposta das comunidades eclesiais à ação de Deus em Jesus.
Na terceira parte, Bosch defende o surgimento de um novo paradigma da missão. Ele constatou que as igrejas cristãs do Primeiro Mundo levaram o evangelho aos continentes não-europeus, mas, juntamente com o evangelho, levaram também suas culturas, suas formas de organização, e a visão imperialista e colonialista dos países de origem.
Bosch desvenda os laços e comprometimentos entre a amorosa vontade de evangelizar e a odiosa vontade de colonizar que mescla a Europa missionária nos séculos XVI em diante e as missões norte-americanas nos séculos XIX e XX.
A sua crítica mostra a validade de um princípio teológico Reformado: o de que toda a ação humana, mesmo a boa ação, está manchada pela presença do pecado.
Em sua proposta afirmativa, Bosch dá continuidade à reflexão sobre as práticas missionárias do século XX, especialmente as que se desenvolveram no ambiente do movimento ecumênico, bem como nos diálogos entre as Igrejas Reformadas de todos os continentes.
Ele propõe um paradigma missionário que chama de pós-moderno – como superação dos limites do paradigma moderno de missões (séculos XVIII-XX), que não respeitou as culturas e identidades dos povos que receberam os esforços missionários.
Bosch distingue claramente entre missão e missões (missões transculturais, centradas na evangelização e crescimento da igreja-denominação).
Para ele, a missão é a própria natureza da igreja porque faz parte do próprio ser de Deus. Deus é missionário e a igreja é essencialmente missionária.
Para Bosch, missões é a palavra que explica os diversos modos de ação da igreja em resposta ao chamado missionário de Deus: a evangelização, o serviço, o anúncio profético, a participação na vida pública etc.
A palavra missões, portanto, recebe um novo sentido. Não se refere apenas à evangelização transcultural e a plantação de igrejas, mas indica todas as respostas da igreja ao chamado missionário de Deus.
Para Bosch, a igreja não é a finalidade da missão. Ela responde, visa a expansão e a construção do Reino de Deus.
O Reino de Deus é maior do que a igreja, pois a igreja vive na tensão entre santidade e pecado, enquanto o Reino é a expressão totalmente santa e justa da soberania amorosa de Deus. A igreja erra, falha e fracassa, mas Deus renova seu povo para voltar à fidelidade ao seu chamado e ao seu Reino.
A vida missionária da igreja é a resposta fiel do povo de Deus ao amor missionário de Deus testemunhado na criação, na redenção e na consumação dos tempos.
Bosch nos presenteou com um livro maravilhoso.
Fica aqui o convite para que você o leia e estude carinhosamente.
Rev. Júlio Paulo Tavares Mantovani Zabatiero
Professor da FATIPI