TEOLOGIA DA MISSÃO: DAS ORAÇÕES NAS MADRUGADAS À ESTÉTICA PRETA
“O caminho para Deus é trilhado por poucas pessoas porque os seguidores de Cristo deixam fora da porta estreita seus erros, seus pecados, seus vícios; o caminho estreito é muito diferente no início, em seu percurso e em seu fim; a verdadeira igreja não é monopólio de nação inteligente e dominadora, monopólio dirigido por uma casta sacerdotal, mas a igreja é, sim, o conjunto de todas as pessoas crentes na suficiência do sacrifício de Jesus, que é o único cabeça da igreja.”
Iniciamos esta reflexão com a citação acima, extraída da obra “Galeria Evangélica”, de Júlio Andrade Ferreira, de 1952, que retrata a práxis missional do Rev. Caetaninho, o “Evangelista dos sertões”.
A fala acima ocorreu na cidadezinha de Campestre, MG, em maio de 1902, dentro de um templo católico. Desafiado a um debate, o Rev. Caetaninho apresentou, em tom de pregação, a base de sua fé conforme Mateus 7.13-14.
Ante a mais pura tentativa de evitar qualquer tipo de anacronismo, isto é, ler o passado com olhos e juízo do presente; longe de “sacralizar” o passado e “profanar” o presente, propomos nesta reflexão um desafio a todos nós pastores, pastoras, irmãos e irmãs em Cristo, a revisitarmos as bases de nossa vocação para a fé e prática missional.
Neste mês de fevereiro, no dia 28, comemoramos o Dia Nacional de Missões em todo arraial Presbiteriano Independente.
Esta data foi escolhida em homenagem ao dia de nascimento de um dos sete pastores fundadores da IPI do Brasil, o Rev. Caetano Luiz Gomes Nogueira Júnior, chamado carinhosamente de Rev. “Caetaninho” e conhecido testemunhalmente como “Evangelista dos sertões”.
Qualquer estudante de teologia de todos os tempos, logo nos primeiros meses de estudo, aprende rapidamente que a palavra teologia é a junção de (teo) que significa, em língua grega, Deus; mais (logia) que também vem do grego que significa “estudo, palavra, verbo”.
Então, o estudo da teologia representa a incansável tarefa de estudar a revelação de Deus na Palavra e no mundo.
Na sequência, Teologia da Missão tem a ver tanto com a revelação de Deus na Palavra e no mundo quanto com a sua exclusiva tarefa/missão de dizer sim e não ao mundo.
Na clássica obra de David Bosch, “Missão Transformadora”, logo na introdução, lemos sua definição bíblica e teológica acerca do tema e do conceito, afirmando que “Missio Dei” nada mais é senão a missão de Deus no mundo, em Cristo, para comunicar redenção e juízo.
É importante resgatarmos o conceito tradicional de Teologia da Missão para exatamente evitarmos a hoje comum confusão entre discípulos de Cristo e adeptos de igrejas.
Daí a origem do título de nossa reflexão que opõe diametralmente as orações nas madrugadas do Rev. Caetaninho ao modismo de nosso tempo que inclui a estética preta como parte significativa para atrair novos adeptos.
Com isso não queremos dizer que quem pinta sua igreja de preto não ora nas madrugadas; antes, afirmamos a distância entre o desejo do “Evangelista dos Sertões” de fazer novos discípulos de Jesus, e a tendência metodológica que abusa de cores e técnicas de nosso tempo para conquistar novos adeptos.
Se no passado, nos idos tempos missionais do Rev. Caetaninho, a evangelização tinha como base teológica a premissa do caminho estreito que conduz à salvação; hoje nos parece que a sedutora ferramenta evangelística se identifica mesmo é com o caminho largo. Afinal, por ele cabem muito mais adeptos.
Portanto, sabemos que a práxis missional do Rev. Caetaninho era oposta à prática missional de nosso tempo.
Se a de hoje usa técnicas de mídia, comunicação e psicologia para atrair multidões; a de Caetaninho consistia em apenas duas técnicas: Bíblia com a qual ensinava o caminho estreito; e remédios caseiros com os abençoava muitos doentes, cuidados em suas incontáveis visitas pastorais nos sertões mineiros, goianos e paulistanos.
Como dizia Francisco de Assis: “Evangelize; caso seja necessário, fale!”
Rev. Adilson de Souza Filho
Pastor da 1a IPI de Mauá, SP