REVITALIZAÇÃO – A CENTRALIDADE DO EVANGELHO E DA MISSÃO
O evangelho da graça de Jesus Cristo e a missão de Deus são vitais para a comunidade cristã e centrais no processo de revitalização de igrejas locais.
Michael Goheen afirma que a identidade missional do povo de Deus se percebe desde a formação da nação de Israel em Abraão, o recebimento da lei em Moisés e as promessas escatológicas nos profetas.
Ele discorre que Jesus reúne um povo escatológico em torno de si, recebendo as dádivas e as obrigações do Reino. Isto implica no perdão, na salvação e no dom do Espírito, bem como na exigência de se viver uma vida distinta, muitas vezes à custa de sofrimento, para que o Reino seja proclamado, vivido e anunciado.
Esta identidade é percebida na Igreja em Atos e também nas epístolas. Desde a queda, Deus age em missão através de seus escolhidos, redimindo a criação, sendo a identidade e o papel da igreja continuamente ligados a ser uma igreja missional.
Ela proclama o evangelho, vive e ora em comunidade, exerce o trabalho missionário que guerreia com o império das trevas, compreende seu contexto local e comunica Cristo no culto de forma contextualizada, prepara pais para educarem seus filhos e trabalha com pequenos grupos para fomentar a comunhão.
John Stott, por sua vez, compreende que a missão está relacionada à proclamação do evangelho de Jesus e à ação social.
A controvérsia sobre a primazia entre a evangelização e justiça social é superada ao demonstrar que a missão é a instauração do Reino de Deus na proclamação e na ação.
Para Stott, a Grande Comissão, no Evangelho segundo João, revela o modelo de Jesus, que é o do povo de Deus.
Por isso, a missão é encarnacional envolvendo o serviço humilde e provocando a transformação social.
Stott reconhece, porém, com base em Lausanne,que a proclamação do evangelho é primordial na missão, que sem ela não há missão e que transformação social deve ser resultado da proclamação de Jesus Cristo como Senhor e Rei deste governo que está sendo instaurado.
A missão começa onde a comunidade de Jesus está, mas se estende às nações. Assim, uma igreja missional é relevante em seu contexto, mas também atua transculturalmente em outros povos.
Tim Keller também compreende que a missão de Deus é central para a igreja. O trabalho do pastor envolve levar cada membro da comunidade ao engajamento na missão de Deus, auxiliando-o a ser presença abençoadora em seu contexto.
Por meio dos relacionamentos e da profissão imerge na vida da cidade, manifestando a ‘cidade de Deus’ na cidade dos seres humanos.
A centralidade da missão é resgatada quando a igreja se vê como uma comunidade que foi enviada no modelo de Jesus, encarnando e se identificando com o mundo, levando o evangelho em palavras e ações.
Ele segue destacando seis marcas de uma igreja missional: o confronto contra os ídolos da sociedade; a contextualização da igreja e da mensagem; o preparo de todos os membros como missionários em todas as áreas da vida; ser contracultural para o bem comum; ser contextualizada de modo que não crentes interessados em questões espirituais se sintam atraídos a se envolverem com a comunidade; e, por último, ser uma comunidade que exercita a união e comunhão.
Resgatar esta centralidade é vital para o processo de revitalização.
Quanto ao evangelho, Michael Goheenem seu livro A Igreja Missional na Bíblia eLeslieNewbigin em O Segredo Revelado: Uma introdução à teologia da Missão,compreendem como mensagem central a vinda do Reino de Deus, ao reconciliar os seres humanos com Deus e ao formar uma comunidade que experimenta as bênçãos espirituais e sociais inerentes ao governo de Deus, tendo em Jesus e sua obra os elementos centrais da instauração do Reino de Deus.
Outro aspecto, muito bem trabalhado por autores como Stetzer, Putman e Keller, é o fato de que o evangelho deve ser contextualizado à comunidade em que está sendo comunicado.
Stott tratou disto como a comunicação fiel e contemporânea do evangelho, fazendo ponte da cultura bíblica para a qual o comunica, desvendando o código missional: uma igreja missionária em comunidade.
Quando se negligencia este aspecto, a igreja tende a perder sua vitalidade, tornando necessário o processo de revitalização.
A contextualização lida com a dinâmica de pronunciar as verdades bíblicas imutáveis de modo fiel, porém claramente compreensível e absorvível pelo povo.
Segundo Stetzer, uma contextualização eficiente gasta tempo procurando entender o “código” do povo alvo, a melhor forma de comunicar e manifestar o evangelho.
Por último, é fato que o evangelho é central não apenas para ingressar na comunidade de Jesus, mas vital durante toda a vida cristã, sendo útil para a salvação e também para a santificação, devendo ser pregado a crentes e não crentes, porque por meio dele o Reino é experimentado em todas as suas bênçãos.
É o evangelho da graça de Deus que fortalece, encoraja, comissiona e motiva a igreja, e que, continuamente, limpa o cristão da culpa, do pecado e da inércia.
É o entusiasmo com o evangelho de Jesus que contagia a igreja a ser missional e bênção para todos os povos.
Para um processo de revitalização se faz necessário resgatar essa centralidade da vida no evangelho, a centralidade de Jesus na missão de Deus, experimentada no culto, na pregação, na comunhão, nas orações e em todas as atividades da igreja, A revitalização não pode prescindir da centralidade do evangelho e da missão!
Rev. Leoniza Cacciari
Pastora da Congregação Brasil Novo, em Presidente Prudente, SP