O ESTANDARTE: 130 ANOS SERVINDO O REINO DE DEUS
O Estandarte, jornal oficial da IPI do Brasil, está completando os seus 130 anos de existência neste mês de janeiro.
Não é uma data qualquer por não ser um jornal qualquer!
O Estandarte é o jornal evangélico mais antigo do Brasil em atividade contínua até o dia de hoje, sem qualquer tipo de pausa em sua publicação ao longo de todos esses 130 anos.
O fato acima destacado já seria suficiente para nossa expressão de júbilo e gratidão a Deus por toda essa caminhada.
No entanto, há outros aspectos que gostaríamos de levantar e trazer rapidamente à lembrança dos leitores e leitoras.
Desde o ano de 1893, quando foi criado pelos seus três fundadores – Eduardo Carlos Pereira, Bento Ferraz e Joaquim Alves Corrêa – O Estandarte tomou para si o título de “sucessor da Imprensa Evangélica”. Esse dado é muito importante! Imprensa Evangélica foi o primeiro jornal evangélico brasileiro, fundado por Ashbel Green Simonton (o pioneiro missionário presbiteriano) e mais quatro companheiros de empreitada em 5 de novembro de 1864. Imprensa Evangélica teve a duração de 28 anos.
Conta-nos o Rev. Vicente Themudo Lessa, em artigo antológico publicado na Revista de Cultura Religiosa (out./dez. de 1926), que, no ano de 1892, os missionários norte-americanos que controlavam o jornal resolveram suspender sua publicação, que à época tinha sua sede em São Paulo e cujo redator responsável era o jovem presbiteriano Joaquim Alves Corrêa.
Apesar dos vários esforços feitos pelos “nacionais” (dentre eles Corrêa, o editor) para que lhes fosse concedida licença de prosseguirem com a publicação, tal licença não lhes foi outorgada.
Assim, em 7 de janeiro de 1893 surge o novo jornal, O Estandarte, pelas mãos de jovens presbiterianos brasileiros e tendo como um de seus três fundadores o último redator de Imprensa Evangélica – Joaquim Alves Corrêa.
Podemos supor, com boas chances de acerto, que Corrêa tenha sido o principal elo na articulação para que a missão jornalística da Imprensa Evangélica prosseguisse nas páginas de O Estandarte. Assim, o título de “sucessor de ‘Imprensa Evangélica”’ se faz justificado para nosso jornal de 130 anos.
Há um outro aspecto nessa longa história de O Estandarte que também gostaríamos de sublinhar: a participação de dois notáveis diretores do jornal, participação essa que muito auxiliou nosso querido aniversariante a manter-se ativo e à altura dos novos desafios que iam surgindo para o protestantismo brasileiro em geral e para a IPI do Brasil em particular.
Lívio Teixeira
São eles Lívio Teixeira e Benjamin Themudo Lessa. Certamente muitos outros diretores e redatores brilharam com seu dedicado trabalho nesses 130 anos. Porém, ao citarmos esses dois, cremos estar fazendo justiça a dois pilares de O Estandarte em tempos particularmente difíceis.
Pastor, professor, filósofo – foi um dos mais eruditos e lúcidos ministros da IPI do Brasil. Filho do Rev. Alfredo Borges Teixeira (um dos ministros fundadores da IPI do Brasil e autor do primeiro livro de teologia dogmática escrito por um protestante brasileiro), assumiu a direção de O Estandarte a partir do número de 4 de novembro de 1932.
A década de 30, como se sabe, foi um tempo conflituoso no Brasil e no mundo, com o surgimento de ideologias políticas conflitantes que incidiram fortemente no interior do protestantismo brasileiro de modo geral.
Com sabedoria, equilíbrio e ponderação, o Rev. Lívio dirigiu O Estandarte e promoveu em suas páginas a discussão dos mais variados e agudos temas, permitindo assim que os leitores do jornal tivessem diante de si um panorama esclarecido da sociedade.
Lívio acreditava que o cristianismo precisava ter um sólido e atualizado testemunho do evangelho para apresentar, em meio às contradições de então.
O grande trabalho de Lívio Teixeira à frente de O Estandarte terminou em janeiro de 1938. Foram 6 anos marcantes e muito importantes para que a IPI do Brasil não se deixasse engolir por compreensões teológicas extremistas
Benjamin Themudo Lessa
Presbítero, advogado, jornalista, filho do Rev. Vicente Themudo Lessa (um dos fundadores da IPI do Brasil e o primeiro historiador protestante brasileiro) –, dirigiu O Estandarte ao longo de boa parte da década de 50. Quando Benjamin Themudo Lessa assumiu o jornal, havia se estabelecido no âmbito da IPI do Brasil, após a famosa crise doutrinária do final dos anos 30 e princípios dos anos 40 (a chamada “Questão Doutrinária”), um certo preconceito quanto ao debate teológico e ao diálogo com a cultura.
Decidido a romper com essa situação, o diretor de O Estandarte iniciou a publicação de cadernos especiais, que receberam o nome de “Cadernos de ‘O Estandarte’”.
Os primeiros volumes foram publicados no segundo semestre de 1956 e saíram como suplementos aos jornais de julho e de novembro daquele ano. Tais suplementos eram autênticas revistas teológicas, que visavam a atender as necessidades de instrução de pastores e leigos em tempos nos quais o Brasil se urbanizava e se escolarizava.
Para o Presb. Benjamin Themudo Lessa, a igreja não podia ficar para trás no aprofundamento de sua própria fé, em tempos nos quais a sociedade se sofisticava intelectualmente.
Certamente os tempos são outros e O Estandarte também tem se modificado.
Não muda, porém, o desafio de nosso jornal no que toca a ser relevante e importante para o preparo, atualização e fortalecimento espiritual de seus leitores e leitoras.
São 130 anos a serviço do Reino de Deus.
A nossa oração é que o jornal continue a ser instrumento de Deus na caminhada da Igreja.
Nesse sentido, damos graças a Deus pelo ministério atual do Rev. Gerson Correia de Lacerda a frente de O Estandarte, ele que é lídimo e fiel sucessor de Joaquim Alves Corrêa, Lívio Teixeira e Benjamin Themudo Lessa.
Que a obra prossiga!
Rev. Éber Ferreira Silveira Lima
Comissão de História e Museu da IPI do Brasil