PÁSCOA: TEMPO DE CELEBRAÇÃO, TEMPO DE ENVIO
“Brilhantes são os sinais da ressurreição do Senhor! Já não lamentos por Adão, mas damos glória ao segundo Adão. Já não tememos a serpente, mas reverenciamos o Espírito Santo. Já não olhamos para a cortina do templo, mas para a igreja revelada. Este é o dia que o Senhor fez. Dia do triunfo, dia dedicado à ressurreição de Cristo, adornado com graça e a presença do cordeiro espiritual. Este é o dia em que Cristo, por sua ressurreição, iluminou todo o mundo.” (João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla, “Sobre a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo”)
Há mais de dois milênios, cristãos e ao redor do mundo celebram a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Filho de Deus. Na Páscoa, celebramos a vida e a morte de Jesus, o encarnado, e a nova vida que temos em Jesus, o ressurreto.
O Jesus encarnado (que morreu na cruz do Calvário) e o Jesus ressurreto (que ressuscitou ao terceiro dia) são o mesmo Jesus. É o mesmo Senhor e SALVADOR de nossas vidas. Seu amor pela criação permanece. Sua santidade permanece. Sua bondade, justiça e poder permanecem. Suas promessas permanecem.
O que muda é sua presença. Enquanto Jesus, quando encarnado, caminhou pelas bandas da Galileia, Judeia e Samaria; Jesus, agora ressurreto, caminha por todo planeta, através do mover do Espírito Santo e de sua igreja, movida à missão pelo Espírito.
Assim, a Páscoa é tanto tempo de celebração quanto tempo de envio. Celebramos a vitória de Jesus sobre a morte. Celebramos a vida do Jesus encarnado: perfeito, sem pecado, sem macula, Mestre, Amigo, Cordeiro, Profeta, Sacerdote e Rei. Celebramos a maior expressão de amor do Trino Deus por sua criação. Celebramos a concretização das promessas do Senhor.
Deste modo, na Páscoa, pela presença maravilhosa de Jesus em nós, celebramos e enviamos. Enviamos porque, hoje, dois milênios depois da ressurreição, a presença de Jesus continua sendo conhecida ao mundo através do Corpo de Cristo, o povo da ressurreição.
Enviamos pessoas cheias do Espírito Santo, assim como foi com Estêvão, Mateus, Priscila e Paulo no tempo da igreja primitiva.
A ascensão de Jesus introduziu um novo tempo. Tempo da nova aliança. Tempo ao qual o apóstolo Paulo chama de “ministério do Espírito” (2Co 3.6-12). Somos chamados a sair e viver a vida nova no Senhor. Somos chamados a ir e fazer discípulos de Jesus.
Na Páscoa, celebramos o cumprimento da missão de Jesus, o Cordeiro Santo, que percorreu a região de Israel, proclamando o Reino de Deus, o qual morreu e ressuscitou no terceiro dia.
Na Páscoa, celebramos o raiar de um novo tempo que possibilitou o derramar do Espírito sobre toda carne, em Pentecostes.
As palavras de João Crisóstomo revelam estes dois importantes aspectos da grande celebração cristã.
- “Já não lamentos por Adão”; “já não tememos a serpente”; “já não olhamos para a cortina do templo.” Por quê? Porque Jesus venceu a morte!
- “Damos glória ao segundo Adão”; “reverenciamos o Espírito Santo”; “olhamos para a igreja revelada”. Por quê? Porque Jesus iniciou um novo tempo!
Crisóstomo continua: “Este é o dia que o Senhor fez”. “Este é o dia em que Cristo, por sua ressurreição, iluminou todo o mundo.”
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas noticiam a Páscoa a partir do raiar do dia. No evangelho de João, porém, é dito que Maria Madalena foi ao sepulcro “enquanto ainda estava escuro” (Jo 20.1).
Quando Maria chega ao túmulo, ainda está escuro. A escuridão é oposta à luz. A escuridão, em João, é oposta às obras de Deus, e diz respeito aos poderes e principados que trabalham para destruir a vida em sua plenitude. Assim, na ressurreição, a Luz surge em meio às trevas, dissipando-a.
Jesus realmente está vivo. Ele é realmente o Messias. E eu e você temos uma importante missão a cumprir: a missão de Deus.
Este é o cerne da primeira mensagem pascal no Novo Testamento: Jesus ressuscitou, portanto o mundo é um lugar diferente, e nós, o povo de Deus, somos testemunhas da ressurreição.
O objetivo final de Jesus não era voltar aos seus discípulos. O objetivo final de Jesus era ir em direção ao Pai e, nos levar a Ele (Jo 14.6).
Assim, a mensagem da Páscoa é um chamado para colaborar com aquilo que Deus já está fazendo no mundo, empoderados por sua presença.
Ascensão não significa ausência. Ascensão aponta para a soberania de Deus, exercida por meio do Espírito Santo.
A vocação da igreja é, portanto, justamente, o chamado a ser testemunha da ressurreição de Jesus. Somos enviados a conclamar homens e mulheres a dizer: “Sim, eu creio no evangelho da Páscoa”; “Sim, estou na presença do Deus vivo, que me encontrou em sua maravilhosa graça”.
Os seguidores de Jesus vivem no “brilhante” intervalo entre a Páscoa e a consumação final. Por isso celebram em contínuo estado de envio. Alegres, porque sabem que vivem os últimos dias. Felizes, porque sabem também que vivem os primeiros dias desta nova aliança no sangue de Jesus.
Atanásio diz que “o Filho está no Pai de uma maneira [por natureza]; e nós estamos em Deus de outra maneira [pela graça]”.
Nossa participação no Senhor e na missão de Deus se dá pelo poder revelado no domingo de Páscoa. A Páscoa é o começo de algo, e não o fim. A ressurreição de Jesus é o início de um novo tempo para seu povo.
Por isso, Paulo escreve aos Colossenses dizendo: Jesus é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha primazia. E o Espírito de Deus é quem coloca em prática o que foi alcançado e lançado na Páscoa. Assim, somos chamados não só a crer na ressurreição de Jesus, mas também a nos tornar sinais e agentes desta nova vida.
A igreja tem uma história para contar: a história do amor salvífico de Deus. Mas, a igreja não deve contar esta história como alguém de fora. Somos parte desta história, testemunhas deste amor salvífico. Por isso contamos sobre algo do qual fazemos parte.
A presença de Jesus em nós, possibilitada pela morte e ressurreição de Cristo, significa que Deus não está apenas conosco (como na criação e na encarnação) e em favor de nós (como no tempo de seu ministério e crucificação), mas também em nós (no tempo da ressurreição e Pentecostes).
Atanásio afirma que a igreja “é obra daquele que vive, e não de alguém morto.”
Uma pessoa morta não pode fazer nada, mas o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo trabalha poderosamente todos os dias, “conduzindo a humanidade à fe, persuadindo-os à virtude, ensinando-os sobre a imortalidade, vivificando sua sede pelas coisas do alto, revelando o conhecimento do Pai, inspirando força diante da morte, e manifestando-se à igreja” (Atanásio).
Jesus Cristo, sendo Deus, é aquele que se apresenta à humanidade em nome da Trindade, chamando-nos e despertando-nos à fé e, ao mesmo tempo, é aquele que se apresenta à Trindade, em nome da humanidade, representando os humanos, pagando o preço do pecado e da morte, e intercedendo por nós.
Nesta Páscoa, celebre a Deus!
Nesta Páscoa, sinta-se enviado por Deus!
Não vemos a Jesus como Pedro, Tiago e Joao, que viveram ao lado de Jesus quando encarnado. Vemos a Jesus como Barnabé, Silas e Timóteo, que viveram ao lado de Jesus, quando ressurreto.
Movidos pelo Espírito da Verdade, compartilhemos a história da redenção, em Cristo Jesus. E Feliz Páscoa.
Rev. Paulo Câmara Marques Pereira Júnior
Membro do Conselho Editorial da IPI do Brasil, pastor auxiliar da 1a. IPI de Curitiba, PR