“DOIS PAPAS” – AS DECISÕES E A VONTADE DE DEUS
De nada faço questão, nem tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20.24)
Segundo o diretor do filme, baseado em fatos, “Os Dois Papas” é um daqueles libelos que nos levam a refletir sobre muita coisa. Sem “spoilers”, mas tratando de questões profundas do filme de Fernando Meirelles, registrarei minhas impressões e recomendarei o filme.
Em 2013, a cristandade católica foi pega de surpresa quando o papa Bento XVI (Joseph Ratzinger), interpretado por Anthony Hopkins, anunciou sua renúncia ao cargo de Papa. E, em cima deste ponto, Meirelles e o roteirista Anthony McCarten criaram diálogos importantes e profundos, que nos fazem pensar nos momentos de decisão pelos quais passamos e, em especial, me fez lembrar dos passos do apóstolo Paulo em suas tomadas de decisões mesmo quando todos os caminhos e pessoas indicavam o contrário.
O enredo foi baseado na personalidade de cada um. Temos o então cardeal Jorge Bergoglio (interpretado por Jonathan Pryce), que é muito carismático e bem humorado, um latino que nos aproxima das questões pastorais e pessoais da caminhada da fé. Em sintonia e fazendo o outro lado da reflexão, Bento XVI tem sua opinião e crises teológica e pessoal que trazem para nossa visão uma paixão pela missão, ainda que seja em dores. Um grande conflito de razão e amores. Há algumas piadas regionais muito divertidas. Mas a questão da tomada de decisão nos coloca em estado de alerta e foi o que mais me fustigou neste filme. A trilha sonora é muito legal. Há o uso inusitado das canções: “Dancing Queen” (Abba), “Bella Ciao” (música-tema da série La Casa de Papel) e “Blackbird” (Beatles), além da homenagem à América Latina, através de ícones como “Besame Mucho” e “Guantanamera”. Temos um filme excelente e indispensável.
Como no filme, ao que parece, todos nós estamos na expectativa de compreender a vontade de Deus para nossa vida, família e ministério. Na caminhada pastoral, os desafios mais profundos são de ovelhas querendo encontrar razão de sua fé (1Pe 3.15). Muitos buscam saber qual é sua parte no corpo. Jovens querem entender como se toma uma decisão que provoca impactos em sua caminhada. Homens e mulheres dos mais experientes parecem ter na trajetória de fé e de vida mais incertezas do que verdades absolutas.
Qual critério para se decidir? Como se faz quando, ao orar, não obtemos clareza na resposta? O que fazer quando o Pai nos contraria, insistindo – silenciosamente – para que caminhemos na direção oposta? Quando estamos a forçar a porta? Qual o limite entre a perseverança e a desobediência?
São questões duras, necessárias e inevitáveis do cristão. No texto bíblico acima mencionado, Paulo se despede dizendo que não verá mais seus amigos daquela comunidade. E, ainda assim, avança para aquilo que compreende ser sua vocação acima de qualquer questão.
Neste contexto da caminhada do apóstolo, o próprio Espírito Santo revelou as provas pelas quais passaria e, ainda sim, ele não deixou de caminhar! Com isto, aponto um critério como balizador de nossas decisões: a coragem.
A vontade do Senhor para o seu povo é maior do que as dores e as frustrações. Cristo disse que não devemos olhar para trás. Mas, no filme, os dois papas (Bento XVI e Francisco) entenderam uma porção do que significa sacrifício e renúncia. A pergunta do apóstolo Pedro a Jesus está posta: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68). Diante das perigosas encruzilhadas, precisamos da coragem de crer que o soberano Pai nos inspirará e nos ensinará todas as coisas. Ele sabe dar o que é bom aos seus. Todos os seus planos são retos, bons e justos. Portanto, para o alto e avante!
Rev. Marcos Camilo Santana
Pastor da 1ª IPI de Carapicuíba, SP