A voz do Senhor

FILHOS DA OBEDIÊNCIA

1Pe 1.19-23 – 3º Domingo da Páscoa
Textos Complementares: AT 2.14,36-41; SL 116.1-4,12-19; LC 24.13-35

Os textos complementares registram a interpretação do cumprimento feita por Deus de um grande livramento para Israel e da possibilidade de este livramento atingir todas as nações da terra. O salmista repete quatro vezes ao longo de seu poema o propósito de sempre invocar o nome do Senhor, pois espera tomar de suas mãos o cálice da salvação prometido ao seu povo. No texto de Atos, Pedro conclui um sermão cujo tema foi provar que Jesus é o Cristo prometido pelos profetas. Igual esforço está fazendo Jesus, agora ressurreto, no livro de Lucas, para mostrar aos seus discípulos que ele é o Cristo prometido nas Escrituras. A parte da epístola, a ser estudada, dá instruções aos que creem e seguem a Cristo como o Salvador anunciado. Assim, os textos complementares serão tomados para exemplificar a análise a seguir. Os evangelistas usaram diferentes formas para explicar como se dá a salvação das pessoas que aceitam Jesus como Salvador. Aqui, a figura é uma transação comercial na qual Deus, pelo preço pago por Cristo, resgata as pessoas que estavam condenadas pelos seus pecados. Nesta direção é que se procederá à análise do texto.

Legados da paternidade terrena (1Pe 1.17)

Era interesse dos primeiros cristãos formarem uma nova geração bem consciente da missão que tinham no mundo, confirmada pela vocação divina. Para tanto, deveriam ter bem acesa na mente a diferença entre a forma de vida que levavam antes e a conduta agora proposta pela mensagem do evangelho. Segundo a epístola, há três pontos a serem considerados neste sentido. Seguindo o curso da terra dos viventes, para usar a linguagem do Salmo, as pessoas se deixavam conduzir pelas próprias paixões, distantes dos princípios legados pelo criador de todas as coisas. Os sentimentos e práticas não tinham objetivos firmes e duradouros. Viviam enganados por uma alegria fútil e passageira, sem sentido, prestes a se tornar em angústia e tristeza. Estavam como que puxados pelos laços da morte, na direção da perdição completa. Por isso, caminhavam sem uma luz que ajudasse a enobrecer o sentido da vida e os encaminhasse na direção de um futuro feliz. O mais triste, porém, é que permaneciam em total ignorância dos planos que Deus, em sua infinita misericórdia, estava preparando para salvar a humanidade. Ou, como disse o próprio Jesus, eram néscios e tardos de coração para ouvir, compreender e seguir tudo o que os profetas disseram. Sem dar atenção ao longo curso das mensagens proféticas preparando o mundo para a chegada do Messias Salvador, os olhos e os ouvidos se fechavam, as conversas se tornavam vazias e nem o próprio Cristo é reconhecido por aqueles que com ele conviveram e com ele aprenderam por tanto tempo.

Adotados por Deus (1Pe 1.18.21)

Nesta situação de abandono e perigo é que Deus vai encontrar o pecador. Sentindo-se ameaçado, o salmista invoca incessantemente o auxílio divino. E Deus se aproxima dos peregrinos que fogem sem saber para onde ir, abrindo os seus olhos e apontando a porta da salvação que se abre à sua frente. Deus se dispõe a adquirir para si o fi lho abandonado à sua própria sorte. E ele o resgata por um preço infinitamente acima de seu valor, mais valioso do que a prata, o ouro ou qualquer valor material. Ele o resgata com o precioso sangue de seu filho, que se entregou como um cordeiro imaculado para a satisfação da justiça divina. E Deus não resgata o pecador para ser um seu escravo, mas para adotá-lo como filho. O batismo é a certidão do novo nascimento. A presença do Espírito Santo para acompanhar e conduzir o novo resgatado é a certeza de que, na verdade, o novo nascimento aconteceu. Morto para os rudimentos, nasce novamente a partir de uma nova semente, não mais sujeita às corrupções deste mundo, mas eterna, com a garantia da Palavra de Deus, que é viva e permanente. Assim, aqueles que estavam sem nada no mundo agora estão credenciados a receber uma herança de valor sem medida. Agora, são herdeiros do reino dos céus. Um pequeno grupo de pessoas desprezadas e ameaçadas de morte, escondidas em um cubículo, veem agora as portas invadidas, não por aqueles que os conduziriam para a condenação, mas por aquele que se aproxima transmitindo a eles a paz espiritual e eterna, e a promessa de nunca os abandonar. Faz bem o autor da epístola ao chamar a atenção para o valor sem medida de tão grande oferta preparada por Deus desde a antiguidade e agora apresentada gratuitamente àqueles que invocam o seu santo nome.

Filhos da obediência (1Pe 1.22-23)

A prática da mensagem anunciada pelos apóstolos trouxe, de início, um difícil problema a ser resolvido. Se a pessoa é salva unicamente pela iniciativa graciosa de Deus de justificar os pecados mediante o sacrifício de Cristo, muitos entenderam que era dispensada qualquer atitude adicional por parte do perdoado para que esta salvação fosse efetivada. Por outro lado, como esta pregação tinha suas origens nos livros sagrados dos judeus, outros entendiam que era necessário guardar os mandamentos da lei para que a salvação fosse obtida. A epístola mostra grande equilíbrio na harmonização destes dois aspectos da fé cristã. Se, por um lado, afirma que o pecador é resgatado pelo precioso sangue de Cristo, por outro, registra sem rodeios que Deus julga segundo as obras de cada um. Por isso, ela é clara, também, em dizer que as obras dos remidos pelo sangue de Cristo devem ser, elas mesmas, provas vivas de que realmente eles foram resgatados e adotados como filhos de Deus, herdeiros do reino dos céus. Se invocam com alegria o Deus de sua salvação, devem estar conscientes de que este Deus é santo e justo, segundo o salmista, e ordena que seus filhos sejam também santos, sempre preocupados com a purificação de suas almas. Se foram alvos da manifestação do amor sem medida de Deus, como filhos de um Deus tão amoroso, é preciso que este amor se revele não apenas em relação a Deus, mas que comece pelo genuíno e sincero amor fraternal, principalmente a favor daqueles que sofrem porque este amor foi banido do mundo. Mas, se a igreja tem de continuar a sua peregrinação na terra dos viventes, ela tem de colocar, sem vacilar, a fé e a esperança naquele que, pelo seu Espírito Santo, a reconduzirá para Jerusalém, como aconteceu com os peregrinos de Emaús, onde os escolhidos de Deus proclamarão em eterna comunhão: Cristo vive! Cristo ressuscitou!

Rev. Lysias Oliveira dos Santos
Pastor Jubilado da IPI do Brasil

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O ESTANDARTE