PODER PARA COMUNICAR
O mês de maio deste ano apresenta uma estrutura interessante e sugestiva do calendário litúrgico cristão. O mês tem cinco domingos. Os quatro primeiros fazem parte do ciclo pascal preparando a igreja cristã para a celebração de maior destaque do mês que é o Pentecostes.
Mas por que o Pentecostes é uma celebração especial? O que podemos considerar de maior relevância? Será pelo fato do texto de Atos 2 nos trazer elementos como a força do vento ou do fogo, linguagem simbólica muito utilizada para representar o avivamento espiritual que a igreja de Jesus precisa? Não. O que se destaca é a comunhão, o diálogo, o entendimento, a alegria, a liberdade e o poder de Deus em construir novas realidades.
O Pentecostes também nos chama para repensarmos o poder da comunicação da igreja em nossos dias. No texto de Atos 2.11, o público internacional que estava presenciando os seguidores de Jesus em Jerusalém ficou impressionado pelo poder da comunicação deles. Qual era o conteúdo da mensagem? “Como é que todos estamos ouvindo essa gente falar em nossa própria língua a respeito das grandes coisas que Deus tem feito?” (At 2.8). As grandes coisas que Deus tem feito era a mensagem. A mensagem era maravilhosa, assim como era a capacidade, pelo poder do Espírito, de comunicá-la aos corações que a ouviam.
Nós, hoje, temos mensagem? Deus tem feito grandes coisas em nosso meio? As pessoas do nosso tempo estão entendendo o testemunho e o discurso da igreja? Pode haver algum caso em que o receptor da mensagem a menospreze por achar que está vindo de gente bêbada? (At 2.13)
Temos conhecimento, com a ajuda das ciências sociais, que o ser humano não nasce pronto, mas ele se faz ser humano no decorrer da sua existência. Um elemento fundamental deste processo é a comunicação. Comunicar é o instrumento utilizado na interação social para o seu próprio desenvolvimento. Quando comunicamos, entramos em relação social. Toda comunicação entre as pessoas não visa apenas o aspecto informativo, mas o formador nas relações sociais.
O poder para comunicar, inspirado no Pentecostes, nos leva a entender que, além do cuidado em si da transmissão da mensagem, tem o objetivo de construir novas realidades. Miroslav Volf faz a comparação entre as religiões proféticas e as místicas. A critica que ele faz à igreja do nosso tempo é a falha de perdermos o propósito profético em nossa ação missionária. A comunicação da igreja precisa transformar o nosso mundo através do poder do testemunho. Esta experiência nos lança à construção de coisas novas, rompendo com o poder da opressão, das injustiças e da morte.
A segunda parte do período pascal, que será celebrada em nossas comunidades, nos desperta a comunicar a mensagem do evangelho a partir da experiência com Jesus. A imagem do Bom Pastor é destacada no 4º Domingo da Páscoa. Jesus é o Pastor que dá a vida pelas ovelhas e apresenta um projeto libertador. No domingo seguinte, celebraremos a declaração de ser Ele o caminho, a verdade e a vida. E todo processo da missão terá forma e êxito pelo Auxiliador, o Espirito da verdade, conhecido e vivido pela igreja.
O ano de 2020 tem sido considerado como o ano mais desafiador de nossa era. Com a crise mundial da pandemia, nós, igreja de Jesus Cristo, fomos desafiados a não parar a missão. Os tempos desfavoráveis não podem nos acovardar, mas nos fortalecer para uma expressão missionária viva, renovada e avivada pelo dom gracioso do Espírito de Deus. O medo se instalou em muitas de nossas comunidades. Nós, os pastores, temos que usar novos paradigmas de pastoreio e cuidado das pessoas diante de um incômodo isolamento social. Por isso, a última celebração do mês, o Pentecostes, deverá ser emocionante e cheia de significados. Através do Espírito de Deus, a igreja resistiu, venceu todo medo e está pronta para testemunhar e comunicar Jesus Cristo até o fim.
Rev. Cláudio Lísias Gonçalves dos Reis Silva
Pastor da IPI do Salvador, BA