História

O PRIMEIRO “ESCRITÓRIO CENTRAL” DA IPI DO BRASIL

Foi nos seguintes termos que O Estandarte de 20 de abril de 1943 informou, à página 10, a instalação do primeiro escritório central da IPI do Brasil, o que se dava 40 anos depois do nascimento da própria denominação: 

“Escritório Central: Foi instalado no prédio n. 561 da Rua Líbero Badaró, segundo andar, junto à Escola Universitária do Dr. Aquiles Archêro Jr. 

Teremos expediente diário das 8,30 às 11 horas e das 14 às 17 horas. Telefone 3-2398. Nele será atendido todo o expediente das Federações, do ‘O Estandarte’ e todo e qualquer assunto que se relacione com as atividades de nossa Igreja.” 

Vinha essa novidade administrativa da IPI do Brasil nomeada como “escritório geral” e, como lemos, concentrando os departamentos da igreja em rua importante da capital paulista.

Na verdade, em lugar nobre do centro financeiro da cidade, tendo na calçada do outro lado da rua o edifício mais alto da América Latina até então construído — o “Prédio Martinelli” –, símbolo da pujança, da modernidade e do espírito empreendedor de São Paulo, a “cidade que mais cresce no mundo”.

Era assim que os meios de comunicação social dirigidos pelas classes burguesas paulistanas descreviam o desenvolvimento da cidade, em busca da construção de seu projeto de sociedade. 

À frente do inovador empreendimento da IPI do Brasil estava a Comissão de Educação Religiosa e Atividades Leigas da IPI do Brasil (CERAL), na pessoa do seu secretário executivo, o jovem presbítero Carlos René Egg.  

A escolha do lugar não era, em absoluto, fruto do acaso. Pelo contrário, os líderes da CERAL queriam passar uma mensagem: a de que a IPI do Brasil ingressava em tempos de progresso e de intensa atividade, capturando, talvez de maneira inconsciente, elementos culturais norte-americanos trazidos pelas “fitas” do cinema: Nova Iorque e seus arranha-céus, jovens executivos correndo atrás de grandes realizações, o movimento acelerado como mote de modernidade.

O centro de São Paulo era o cenário ideal para mostrar que a liderança leiga da IPI do Brasil superara as marcas e querelas da “Questão Doutrinária” (concluída no ano anterior), propondo para a denominação um novo tempo, com a pregação de um evangelho urbano e de um testemunho público mais adequado à cultura do pós-guerra.

No ano de 1947, o “escritório geral” sob o comando da CERAL já ocupava 4 salas do edifício, sendo três delas no terceiro andar. Assim dizia O Estandarte de 31 de agosto do referido ano, à página 34, em legenda de foto: “A CERAL é um centro de constante trabalho, de muita vibração por tudo o que as IPIs estão realizando em todo o Brasil”.

O “escritório geral” da Rua Líbero Badaró veio responder de forma inédita às ações das primeiras décadas da IPI do Brasil, nas quais a gestão denominacional, em uma primeira fase, ficou sob custódia dos líderes fundadores e os papéis administrativos eram armazenados nas pastas, gavetas e escaninhos dos seus respectivos gabinetes pastorais.

Em um segundo momento, após a inauguração do prédio destinado ao Colégio Evangélico e ao Seminário na Rua Visconde de Ouro Preto (22 de janeiro de 1914), boa parte da administração da IPI do Brasil transferiu-se para esse novo local.

O próprio O Estandarte manteve uma (pequena) gráfica no prédio do Seminário. E, de fato, o Seminário era uma espécie de “coração” da IPI do Brasil, dando continuidade ao papel histórico exercido pela 1ª Igreja de São Paulo nos anos iniciais.

Quando do início da experiência (malsucedida, diga-se) do Seminário Evangélico Unido no Rio de Janeiro, em 1930 – episódio que determinou o encerramento de atividades do Seminário na Rua Visconde de Ouro Preto -, a administração da IPI do Brasil perdeu um espaço institucional importante.

A propriedade, para não ficar ociosa, foi alugada para um colégio particular. Embora a IPI do Brasil não tivesse uma estrutura de grande monta, já se ressentia a denominação de um “coração administrativo”, o que veio a se concretizar com o “escritório geral” da Rua Líbero Badaró no ano de 1943.

Tempos depois, com a retomada via judicial do prédio da Rua Visconde de Ouro Preto e o retorno da Faculdade de Teologia para esse endereço no ano de 1950, a IPI do Brasil voltou a concentrar elementos de sua administração no velho edifício.

Havia, na ocasião, um certo refluxo do próprio movimento leigo, com críticas à maneira como a CERAL abarcara a direção dos diferentes setores de atuação da igreja e monopolizara a administração denominacional.

Enfrentava também a igreja um momento financeiro desfavorável. Tal quadro levou a CERAL a deixar as dependências do prédio da Rua Líbero Badaró, desfazendo-se então a experiência do primeiro escritório central da IPI do Brasil. 

Em finais dos anos 60, a IPI do Brasil adquiriu um apartamento no décimo-primeiro andar do número 530 da Rua Rego Freitas, bem próximo à Avenida Ipiranga e Rua da Consolação. Ali, reinstalou o escritório central, no espírito da experiência dos anos 40. O famoso “E-11” era, na verdade, um apartamento transformado em escritório. No mesmo prédio, no térreo, a IPI do Brasil adquiriu também a “loja O”, onde se instalou a Livraria Pendão Real.

Por aproximadamente uma década, no “E-11” funcionou a administração da IPI do Brasil – presidência, tesouraria, secretaria, O Estandarte, dentre outros departamentos -, até que, em 1978, adquiriu-se todo um andar de um edifício localizado na Rua Amaral Gurgel, 452, sobreloja, que já incluía instalações e mobiliário modernos e funcionais para a época.

Com o passar do tempo, um outro piso do mesmo edifício foi adquirido para atender a outras atividades e demandas departamentais, em particular de O Estandarte

Do endereço da Amaral Gurgel, que se tornara pequeno para a igreja em plena expansão ministerial e de serviços eclesiásticos dos anos 80, passou-se de um, dois andares, para todo um prédio! No ano de 2006, a IPI do Brasil adquiriu um edifício de oito pavimentos localizado no número 2121 da Rua da Consolação, distante apenas três quadras da icônica Avenida Paulista.

Para lá, depois de importante reforma, a igreja transferiu o seu Escritório Central. Hoje, praticamente todos os ministérios e serviços da IPI do Brasil encontram-se abrigados no Edifício “31 de Julho”, assim batizado em sua inauguração.

A sede da igreja instalou-se, outra vez, no coração da maior cidade do Brasil e do Hemisfério Sul, local onde se dão algumas das principais mobilizações sociais e políticas do país. Uma espécie de caixa de ressonância do Brasil, embora não seja, por óbvio, a única. 

O Escritório Central da IPI do Brasil, funcionando no Edifício “31 de Julho”, concretizou em certa medida o projeto administrativo dos jovens dos anos 40, que anteciparam um “escritório geral” ao pulso de sua sociedade, atendendo às demandas de seu tempo com o Evangelho de Cristo.

Rev. Éber Ferreira Silveira Lima
Comissão de História e Museu da IPI do Brasil

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