Homenagem Póstuma

JUAN STAM: “EVANGÉLICO, CATÓLICO, PENTECOSTAL”

Faleceu no dia, 17/10/2020, na Costa Rica, o Rev. Juan Stam, nascido no dia 10/8/1928. Ele ficou conhecido entre os pastores da IPIB, ao participar de congresso da nossa igreja no início da década de 1980.

Na verdade, ele foi um dos teólogos mais influentes entre os evangélicos da América Latina. Contudo, ele não era latino americano de nascimento.

De ascendência holandesa, era norte-americano de Paterson, localidade do Estado de New Jersey, nos EUA. Mas, depois de seu casamento, em 1954, com Doris Emanuelson, o casal emigrou para Costa Rica, onde ele deu início ao seu ministério pastoral.

Ali, à semelhança de John Mackay, tornou-se “um norte-americano com alma latina”. Diferentemente de muitos latinos que buscam a cidadania norte-americana, Juan Stam se nacionalizou costarriquenho, numa demonstração inequívoca de sua identificação com os povos da América Central e do Sul.

Sua formação acadêmica foi primorosa, conquistando seu doutorado na Universidade de Basileia, na Suíça, em 1964, tendo sido aluno de Oscar Cullmann e Karl Barth. Além disso, fez estudos pós-doutorais na Universidade de Tubingen, na Alemanha, com Hans Küng, Jürgen Moltmann e Ernst Kaesemann.

Assim, tornou-se um professor muito requisitado, lecionando em diversos seminários e universidades da América Latina e de outros lugares (Índia, Holanda, Estados Unidos, Canadá).

Nunca, porém, deixou de conservar sua “alma latina”. A respeito dele, alguém escreveu: “Exceto por seu físico alto e esguio, tudo mais apontava para uma personalidade totalmente latino-americana”.

Por isso mesmo, tornou-se um dos pais do chamado movimento da “Missão Integral”, ao lado de René Padilla, Samuel Escobar e Orlando Costas, de profunda influência no pensamento teológico de nosso continente no século XX.

Esse movimento é o grande responsável pelo estabelecimento de que a evangelização e a transformação social não são excludentes. Muito ao contrário, a transformação social e a evangelização caminham juntas na integralidade da missão. São, de fato, os dois lados da mesma moeda.

Impressiona, sobretudo, um testemunho do próprio Juan Stam a respeito de si mesmo num de seus muitos escritos. São suas as palavras:

“Nesta vida humana, é importante ter uma identidade. Dá segurança dizer: ‘Sou presbiteriano’ ou ‘Sou pentecostal’. Eu sou evangélico. Não, porém, no sentido dos ‘conservadores evangelicais’ dos Estados Unidos, nem no uso latino-americano de ‘protestante’. Sou evangélico porque tenho sido alcançado pela graça de Deus e essa graça é o firme fundamento de minha existência.

Porém, uma surpresa: por ser evangélico, não deixo de ser católico! A palavra ‘católico’ tem o sentido de ‘segundo o todo, universal’. Os pais da igreja falavam da igreja universal. Assim é a igreja: em todo o mundo, universal.

Também sou pentecostal! Não concebo como pode haver cristãos que não sejam pentecostais. Sim, a igreja nasceu no Dia de Pentecostes e nasceu profética. Parece-me um lamentável desvio semântico que o título ‘pentecostal’ se limite estreitamente a somente um setor da igreja cristã.

Biblicamente, são pentecostais todos os que aceitam com alegria os dons do Espírito Santo, pregam expositivamente a Palavra de Deus e praticam radicalmente, em uma comunidade revolucionária, as demandas do evangelho. Nesse sentido, toda a igreja está chamada a ser pentecostal.

É por isso que me identifico como um evangélico católico pentecostal… e também menonita, morávio, metodista, etc. Sobretudo, identifico-me como cristão e humano”.

Por tudo isso, os 92 anos de existência de Juan Stam, um latino-americano nascido nos EUA e de ascendência holandesa, foram uma vida abençoada e frutífera para a glória de Deus, a quem seja dada toda a honra e toda a glória!

Gerson Correia de Lacerda, secretário geral da IPIB e editor de O Estandarte

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