Pastoral da Diretoria

INTERDEPENDÊNCIA OU MORTE!

“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,  do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Efésios 4.15-16)

Estamos no mês em que a Independência do Brasil é celebrada. Aliás, o Brasil comemora os 200 anos de sua independência!

A independência do Brasil foi declarada em 7 de setembro de 1822 e foi resultado do desgaste das relações luso-brasileiras a partir da Revolução do Porto de 1820.

Por meio desse acontecimento, o país conquistou a sua emancipação de Portugal.

De fato, temos orgulho de sermos um país independente e que ficou livre dos “grilhões que nos forjava/ Da perfídia astuto ardil” como consta na letra do hino da Independência do Brasil.

Naquele contexto, de fato o Brasil vivia sob o jugo de Portugal, o que gerava profundas amarguras, alimentando o sonho dos brasileiros de serem independentes.

Também, o sonho de todos os pais para seus filhos é que cresçam e se desenvolvam e sejam independentes para poderem construir o futuro de cada um.

Aliás, em geral esse também é o sonho dos filhos.

A IPI do Brasil traz em seu nome a palavra “independente” em razão de nossos fundadores desejarem construir uma Igreja genuinamente brasileira e que não dependesse dos recursos financeiros da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América, para poder se autogerir, nos aspectos da evangelização, da educação secular, da formação de seus pastores etc.

Porém, nem países, nem filhos e principalmente Igrejas podem dizer que são totalmente independentes e que não necessitam uns dos outros.

A Psicóloga Vanessa Brito, num texto publicado na internet, afirma que:

  • Tanto a dependência quanto a independência são importantes para o nosso desenvolvimento, o problema é quando ficamos cristalizados em uma dessas duas posições.
  • Se formos muito dependentes dos outros, não desenvolvemos nossa autonomia e se formos muito independentes, também não evoluímos, pois somos seres que aprendemos na relação e não existe independência absoluta! Lembre-se: um dia alguém nos alimentou e um dia precisaremos que alguém feche nossos olhos.
  • Então, qual seria a forma mais saudável para se desenvolver? Seria ter nossa própria independência sem nos esquecermos de que não somos seres isolados, mas interdependentes, ou seja, que estamos conectados uns com os outros em uma relação de reciprocidade e de auxílio mútuo, e é assim que crescemos e evoluímos, juntos e, ao mesmo tempo, a nossa própria maneira. (grifei)

Pensando dessa forma, se pais, filhos e nações precisam ter consciência de que a interdependência é crucial para o desenvolvimento de cada um, o que falar em relação à Igreja de Cristo?

O Apóstolo Paulo, no texto acima mencionado ensina que:

  • Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,  do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” (grifei)

Paulo utiliza a figura do corpo humano para compará-lo à Igreja de Cristo neste texto e em outras oportunidades.

Em 1 Coríntios 12.12-20, ele deixa claro a importância da interdependência em sua Igreja – seu próprio corpo.

  • 12 Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo./ 13 Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito. /14 O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos./15 Se o pé disser: “Porque não sou mão, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. /16 E se o ouvido disser: “Porque não sou olho, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. 17 Se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato? 18 De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade./19 Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?/ 20 Assim, há muitos membros, mas um só corpo. (grifei)

Em nosso corpo, os membros têm funções e atribuições específicas, dando uma ideia de independência; o corpo da Igreja é uma unidade e portanto, somos INTERDEPENDENTES uns dos outros.

João Calvino comentando sobre Efésios 5.16, diz que:

  • “Como a raiz transmite seiva a toda a árvore, todo o vigor que possuímos deve fluir para nós de Cristo. Há três coisas aqui que merecem nossa atenção. O primeiro é o que foi afirmado agora. Toda a vida ou saúde difundida pelos membros flui da cabeça para que os membros ocupem uma posição subordinada. A segunda é que, pela distribuição realizada, a parcela limitada de cada um torna absolutamente necessária a comunicação entre todos os membros. A terceira é que, sem amor mútuo, a saúde do corpo não pode ser mantida. Através dos membros, como canais, é transmitido da cabeça tudo o que é necessário para a nutrição do corpo. Enquanto essa conexão é mantida, o corpo está vivo e saudável. Cada membro também tem sua própria parte, – de acordo com o trabalho eficaz na medida de cada parte.”(grifei)

Tanto Paulo, quanto Calvino são unânimes em ressaltar que a unidade da Igreja depende da conscientização de seus membros de que ninguém é autossuficiente, totalmente independente, mas que a interdependência deve ser nossa marca.

Isso nos faz pensar na gravidade do tempo em que vivemos, onde a falta de respeito pelas ideias do outro, a arrogância com que tratamos as pessoas e a falta de amor em nossas relações interpessoais têm sobressaído, para a tristeza de nosso Senhor Jesus.

Somos membros que trazem diferenças de funções, atribuições, pensamentos, ideias, preferências, mas nada supera o AMOR que deve nos unir em Cristo, o que nos faz interdependentes por conta desse amor.

Quando constatamos que nas famílias e na Igreja inexiste a conscientização de que somos dependentes uns dos outros, podemos afirmar que corremos o risco de vivermos debaixo do império da morte e não da vida em Cristo.

Morre o respeito, morre a paciência, morre a tolerância e a igreja enquanto instituição pode morrer.

Não a verdadeira Igreja de Cristo! Essa não morre jamais!

Mas, famílias e igrejas podem morrer quando seus membros não têm consciência de que não são totalmente autossuficientes.

Por isso, ou vivemos sob o manto da INTERDEPENDÊNCIA ou MORREREMOS, isolados nas nossas tolas convicções.

É o que Calvino nos ensinou no texto acima: “A terceira é que, sem amor mútuo, a saúde do corpo não pode ser mantida”.

O poeta e pregador inglês John Mayra Donne, que viveu entre 1572  a 1631  nos deixou uma pérola que ilustra bem a necessidade de compreendermos sobre interdependência:

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

Nossa oração é para que pastores, pastoras, missionários e missionárias, oficiais e membros tenham disposição de viver essa interdependência ensinada por Cristo e enfatizada pelo apóstolo Paulo e destacada por João Calvino.

Que sejamos “IGREJA PRESBITERIANA INTERDEPENDENTE DO BRASIL”.

 Pela Coroa Real do Salvador!

Rev. João Luiz Furtado
Presidente da Assembleia Geral da IPIB
presidencia@ipib.org

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