RELIGIÃO, GÊNERO E DIGNIDADE HUMANA
Para começarmos
Embora sejam assuntos distintos, religião, gênero e dignidade humana se encontram. Para tratarmos das questões de gênero devemos recorrer aos fundamentos dos Direitos Humanos e da esfera religiosa predominante em nossas sociedades.
Muitas são as dificuldades na compreensão e na articulação que permeiam as relações de gênero. Este texto, de caráter interdisciplinar, procurará trazer à reflexão os direitos humanos e suas implicações nas relações de gênero, sobretudo acerca das questões que envolvem a mulher, grupo ainda minoritário nas decisões e nos direitos sociais.
O conceito de “identidade” seria a soma de tudo aquilo que nos molda ou que nos formula. Essa soma estabelece nossas ações e comunica para as outras pessoas quem realmente somos. Se for distorcida, essa busca por um reparo social virá por intermédio de outros “ativismos” e movimentos conceitualistas. Por exemplo: até que ponto os discursos de gênero e dignidade humana têm alcançado as minorias e como elas têm compreendido suas mensagens? Será que a própria aposta na multiplicidade de subjetividades não dificultaria a aceitação dessa mesma proposta?
Procuraremos, então, clarear essas ideias que, por tanto anos, têm nos parecido demasiadamente turvas.
Acerca da religião
A utilização do gênero como categoria de análise, aliada à concepção de religião como sistema simbólico estruturado e estruturante, nos permite perceber que a construção do patriarcado tem uma longa e estreita relação com as informações religiosas presentes na tradição judaico-cristã.
A mulher, na história do cristianismo, encontra pouca informação positiva a partir da qual possa alimentar uma concepção não patriarcal de si mesma e de suas relações com o masculino.
Com isso, vem a construção legitimista do conceito de amor maternal como construção histórica e cultural do século XVIII, quando o capitalismo industrial europeu definiu espaços sociais para os gêneros. Contudo, um fator importante para a consagração do amor maternal veio da Idade Média, em que as figuras de Maria e de Eva tornaram-se os paradigmas antagônicos para definir a natureza das mulheres.
Acerca do gênero
Toda identidade é construída a partir da alteridade humana. O problema se encontra numa expressiva dominação colonial que impõe valores, conceitos, costumes e um modo de ser e pensar.
O termo “interstício” significa “entre-lugar, não estar nem em um e nem em outro”. A função do senso comum nos inclina para um encarceramento do outro em algum lugar, isso no que concerne na imposição social do gênero na sociedade, o qual é extremamente opressor.
Foi no contexto do feminismo que o termo “gênero” surgiu como categoria de análise das diferenças entre homens e mulheres. Na década de 1970, a distinção entre sexo e gênero foi fundamental para refutar o determinismo biológico como justificativa para as desigualdades sociais entre homens e mulheres.
Acerca da dignidade humana
A recepção dos Direitos Humanos na igreja foi marcada por posições ambíguas. Por um lado, a igreja, seguidora de Jesus, tem oferecido contribuições históricas no reconhecimento dos Direitos Humanos com os princípios de igualdade, fraternidade, solidariedade e justiça que se fundem em uma antropologia integral.
Por isso, é importante compreender como se dá e quais os pressupostos da não aceitação dos Direitos Humanos pela igreja, salientando a sua contribuição para a doutrina desses direitos e o contexto histórico em que eles se desenvolvem.
O conceito de pessoa e de sua dignidade é uma herança do cristianismo. A pessoa, por sua natureza animal racional, é dotada de liberdade, revestida de uma dignidade na qual seus direitos inalienáveis estão fundamentados. Na Declaração Universal dos Direitos do Humanos não está explicitado o conceito de pessoa, porém o mesmo é o fundamento de todas as menções feitas no artigo primeiro, quando se refere à razão e consciência de que todo ser humano é dotado na sua dignidade.
Em resumo
Embora o senso comum usualmente queira ver nas religiões um meio de integração social e espiritual potencialmente universal e afetuoso, sua prática institucional, muitas vezes, parece caminhar justamente rumo a segregações, exigências identitárias, exclusão de minorias e desrespeito aos Direitos Humanos.
Aceitar a diferença é aceitar a dialética da distância e da proximidade. Quando assumimos a diferença, assumimos também a semelhança e a igualdade; consentimos com uma vida de comunhão e autonomia que não é capaz de anular o outro como pessoa. A igreja que se permite entender o outro como ele é, acima do seu eu biológico, é a igreja que entende a universalização do evangelho, sem anular fundamentos bíblicos.
Sarah Morales Neumann
Membro da 1ª IPI Osasco, SP
Aluna do 3º ano da Faculdade de Teologia de São Paulo da IPIB (FATIPI)
Temos que dar alguns exemplos de sociedades que viveram “acima do seu eu biólogico”.
Podemos citar o mundo antes do dilúvio e sodoma e gomorra.
Pensando que “aceitar a dialética da distância e da proximidade” e a “prática institucional … Rumo a segregação … E desrespeito aos direitos humanos”.
No fim sabemos que quando aceitos, são automaticamente destruídos.
Assim será na volta de Jesus! Os que não são como Noé e Ló serão destruídos!
Mesmo pensando estar “ajudando” com esse texto, está condenando muitos a um fim terrível!
As vezes o patriarcado é o único jeito exposto na bíblia e na história de sobrevivência e continuidade!
Ótimo texto.
É muito bom ver jovens cristãs refletindo de maneira tão clara sobre temas tão urgentes, dentro da igreja