REDESCOBRINDO A VOCAÇÃO
Alguns desafios estão presentes em uma tarefa como aqui estamos a empreender.
O primeiro está relacionado à decisão quanto ao endereçamento da mensagem, tendo em vista os limites e as fronteiras que precisamos estabelecer para abordar o tema definido.
O segundo, ainda mais estimulante, é alcançar aqueles que, em princípio, não se sentem integrados às linhas que apresentam a temática.
Em vista disso, as escolhas que fizemos buscaram atender a uma leitura particular das experiências que vivemos. Leituras de uma experiência marcada pela demora em atender ao chamado de Deus, chamado especial, único e absolutamente prazeroso.
Enfim, pensamos num texto que pudesse falar/sentir. Um texto que buscasse trazer à tona olhares que, dadas as realidades vivenciadas contemporaneamente em nossas igrejas e em outras denominações, têm anuviado características essenciais da vocação, do chamado divino para mulheres e homens que abraçam os ministérios que estamos aqui a tratar.
Nesse sentido, o desafio é escrever/sentindo. O desafio é expressar para além da crueza da realidade de pastores e missionários os sentimentos e a beleza que permeiam esses ministérios e nos fazem felizes.
A natureza da vocação, rememorando
O Rev. Timóteo Carriker (2020), pensando a respeito de uma Teologia da Missão, afirmou que a ação de Deus na consecução do seu plano pode ser analisada a partir de enredos que estão distribuídos na Bíblia relacionados diretamente à ação de Deus na história humana.
A Palavra de Deus registra esses enredos que vão demonstrar que, por trás das narrativas bíblicas, há uma narrativa que encadeia e que se estabelece como o fundamento divino do seu plano.
Partindo, portanto, de tal pressuposto, e do referido enredo divino presente na história humana, aludamos a vocação como um ato de Deus, convocando-nos para uma parceria que será vital para a execução da sua missão.
Pensar a vocação sob esse prisma é perceber que fazemos parte de algo bem maior. Algo que está além do nosso querer. Algo que não se coaduna com os interesses próprios.
O sentimento que nos toma de assalto, no primeiro momento, faz-nos entender a reação de Moisés ao seu chamado. O sentimento que acomete Moisés é conhecido por cada pessoa que se sente chamada: não há nada em nós que justifique a escolha.
O nosso olhar desperta o coração que se indigna diante da dor. O nosso olhar desperta o coração que agoniza diante da perdição de almas que, errantes, caminham dando as costas para Deus.
Só assim, temos a coragem de ultrapassar o medo e dizer sim ao chamado. Eis a questão: somos chamados, não por méritos, mas para sermos parceiros do Deus verdadeiro.
As singularidades dos vocacionados
No diálogo estabelecido entre o anjo do Senhor e Gideão uma coisa fica clara: Deus é Deus que ouve o clamor do seu povo. Deus vocaciona um parceiro para libertar Israel da opressão midianita. O anjo do Senhor exclama: “Vá com a força que você tem e liberte Israel dos midianitas. Sou eu quem o envia!”
O anjo do Senhor fez alusão a uma característica de Gideão que seria utilizada na parceria que libertaria Israel.
A partir disso, precisamos reconhecer, como Moisés, que somos marcados por limitações. Nesse particular, duas práticas precisam ser efetivas entre nós: a autocrítica e a abertura para a mudança, visando a longevidade do trabalho onde estivermos.
O chamado não é apenas privilégio, uma escolha injustificada. O chamado é, também, responsabilidade. Por isso, a nossa oração é sempre que Deus retire de nós tudo o que ofende, pedindo a Ele que desenvolva em nós o sentimento de fidelidade.
Pensar na fidelidade é pensar na forma como o nosso Salvador, diante do plano da redenção foi “fiel até e morte e morte de cruz”. A fidelidade de Jesus, como bem explicitou Zabatiero, legou a Ele “um “nome acima de todo nome”.
Na carta aos Hebreus, essa a condição de fidelidade de Jesus concede a Ele a honra. A fidelidade ao plano salvífico de Deus permeia a vocação. A fidelidade de Jesus ao plano de Deus é o elemento definidor do nosso chamado, relacionando-o à humildade.
O texto de Filipenses é perfeito na referência a essa condição. Nesse sentido, a centralidade da vocação em Cristo e no seu exemplo qualifica-a, tornando-a perene, marcando-a como um meio para um proposito.
Sendo assim, a fidelidade, a dependência, a humildade e a santidade devem suplantar qualquer competência que tenhamos no exercício da nossa vocação.
Rev. Neilton Diniz
Pastor da IPI de Sacaitaua, MA, da 1ª IPI de São Luís, MA e da 3ª IPI de São Luís, MA