Resenha

PARA PENSAR NO PORQUÊ DOS FILMES QUE ASSISTIMOS

Quando adentramos uma sala de cinema, nós esperamos sentir, ver e ouvir algo. Dificilmente estamos ali sem a menor ideia do que está por vir. E os filmes têm esse poder de nos dizer algo sem pedir muita licença. Algumas vezes, o filme nos surpreende e nos leva a lugares que não imaginávamos. Pare para pensar em quantas vezes, mesmo sem gostar de um filme, você se levantou e saiu da sala? Se a mensagem nos ofende, podemos sair (mas normalmente nem entraríamos na sala), mas, se ficamos desconfortáveis, se nos mostra um ponto de vista que ainda não conhecíamos e que não é o nosso, mesmo não nos sentindo representados, nós permanecemos sentados e recebemos aquela mensagem até o fim. Ao entender isso, eu percebi que a mensagem dos filmes impacta muitas pessoas, pessoas as quais podem nem ter imaginado serem tocadas pelo filme ao qual estavam assistindo.

A mensagem do filme, bem como todas as suas áreas de atuação como fotografia, roteiro, montagem exercem uma função que vai chegar ao espectador de uma forma diferente. Há um livro sobre cinema e filosofia, cujo título é “O cinema pensa – uma introdução à filosofia através dos filmes” de Julio Cabrera, no qual o autor trata de filmes como conceitos imagem, que foi como ele nomeou o conceito compreensivo do mundo presente naquelas imagens projetadas. Julio faz conexões que muitas vezes parecem arbitrárias entre filmes e ideias filosóficas. É muito interessante perceber como um mesmo filme pode falar tantas coisas diferentes a tantas pessoas também diferentes (Para quem se interessar: CABRERA, J. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Trad. Rita Vynagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2006).

O autor diz que acreditava na “filosofia como busca do verdadeiro e do universal e tentava encontrar aquilo que o cinema tinha de filosófico nesse sentido”. Ao reler este livro recentemente, eu fiquei refletindo o que os cristãos buscam no cinema. Buscamos o lazer? Buscamos representação? Procuramos entender o mundo? Ou será que no cinema conseguimos fugir do mundo e das nossas aflições? Julio é filósofo e, por gostar muito de cinema, fazia essa relação. Poderíamos nós, cristãos, fazer conexões entre os filmes que vemos e a natureza do Eterno, seus atributos e sua relação com os seres humanos? Não seria esse um ótimo exercício?

Bem no início do livro aprendemos um pouco sobre Platão e o mundo das ideias, e somos guiados à reflexão da ideia universal da guerra. Seria possível através de um filme ter uma ideia que alcançasse a todos sobre o que é a guerra? Logo após, refletimos um pouco sobre a questão da verossimilhança e se é possível retratar a realidade como ela é nos filmes ao conectarmos Aristóteles e o filme “Ladrões de Bicicleta”. É muito interessante como Julio liga os pontos e nos faz ver novos sentidos em filmes clássicos e que já poderíamos ter visto e nunca pensado no que ele traz à tona. E cabe aqui a reflexão: de onde vem nossa ideia do que é a guerra?

Mais para o final do livro, temos Jean-Paul Sartre e o filme “Thelma e Louise” para nos fazer pensar sobre a existência e a liberdade. Há o questionamento se as personagens eram mesmo livres para fazer as escolhas que fizeram ou se não, se suas atitudes seriam como foram de qualquer forma por conta do passado que carregavam. Quantas vezes nós paramos para pensar nas atitudes das personagens nos filmes que assistimos e questionamos por que agiram de tal forma, o que poderia ter sido diferente. Você já parou para refletir sobre a relação de Deus com algum personagem e porque eles agiam como agiam?

Existem muitos filmes que são classificados como cristãos e que tratam explicitamente da questão da fé, de como as pessoas deixaram de crer e retornaram, como Deus agiu e se fez presente em suas vidas. Mas há também os filmes que não têm qualquer rótulo explícito e que podem falar mais através das ações das personagens e tocar pessoas que nem sabem que estão a presenciar algo divino.

No filme “Até o último homem”, nós temos um exemplo disso. Um soldado vai para guerra sem armas e diz que se recusará a atirar em qualquer pessoa. Muitas pessoas assistiram ao filme e foi inevitável procurar saber logo após se Desmond Doss, o médico de combate, era cristão. “O cinema pensa – uma introdução à filosofia através dos filmes” é um ótimo exercício para aprender onde estão essas conexões entre teorias e mensagens cinematográficas. Se você gosta de refletir, se gosta também de cinema e se está disposto a questionar essa busca do verdadeiro e do universal nos filmes para buscar onde está a vida cristã em cada relacionamento e em cada experiência vivida na tela, eu recomendo a leitura. Você nunca mais vai assistir um filme da mesma forma e seus olhos e mente serão levados a perguntar sempre onde está o Eterno naquela história, como seria o desfecho se aquelas personagens conhecessem o amor divino. Você vai se perguntar se vai guardar aquela mensagem que não pediu licença para ser ouvida, mas que precisa da sua permissão para fazer morada em você. E o cinema será ainda mais encantador e rico do que tem sido desde que surgiu em 1895.


Anna Carolina Esselin Carvalho
Membro da IPI Central de Brasília, DF

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